Há países que produzem, comercializam e exportam bens e serviços digitais. Outros, como o Brasil, não conseguem produzir e se tornam importadores
São Paulo – Os novos parâmetros da digitalização e do trabalho cada vez mais conectado à internet e ao uso de aplicativos exigem a regulamentação de muitas atividades. Sem isso, serão aprofundados ainda mais os efeitos da desregulamentação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) pela reforma trabalhista dos últimos anos, que aumentou a precariedade.
Para o economista Marcio Pochmann, presidente do Instituo Lula, há muito o que fazer sobre o tema. Com inúmeras funções cada vez mais digitalizadas, o trabalhador de certa maneira fica “plugado” no trabalho durante mais tempo do que deveria. Em muitos casos não há a jornada de seis, sete ou oito horas. “Estudos mostram que o trabalho das pessoas tem uma jornada muito extensa. A desigualdade se aprofunda pela má repartição dos ganhos do trabalho”, diz Pochmann.
Nesse sentido, segundo ele, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem destacado que é preciso construir novos parâmetros das relações de trabalho com diálogo em discussões tripartites, reunindo trabalhadores, empregadores e Estado.
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Pochmann nota que há uma divisão do trabalho digital no mundo atual, e é importante partir dessa perspectiva: há países que produzem, comercializam e exportam bens e serviços digitais. Outros, como o Brasil, não têm tecnologia suficiente para produzir isso e se tornam importadores.
Além disso, com a automação, o país precisa gerar empregos qualificados, e não mais postos de trabalho muito simples, com baixa remuneração, que não dão perspectivas aos jovens recém-saídos das universidades.
Reindustrialização para o século 21
“O Brasil é o quarto maior mercado consumidor desses bens e serviços digitais. Isso precisaria ser enfrentado, mas somos dependentes da importação”, diz. Em sua opinião, o que está em questão é o que ele chama de “soberania digital” e a necessidade de se pensar na reindustrialização. “Não uma volta ao passado, mas conectada com as perspectivas do presente e futuro”, afirma o economista.
Igualmente, Giorgio Romano Schutte, professor de Relações Internacionais e Economia da Universidade Federal do ABC (UFABC), considera central a discussão sobre a reindustrialização do país, “mas não sob parâmetros antigos, e sim novos”.
“O mundo está investindo muito. A Europa está falando em política industrial depois de décadas de neoliberalismo, quando era ‘proibido’ falar em reindustrialização”, diz Giorgio. “Os Estados Unidos estão colocando trilhões de dólares para chips e questões energéticas etc. A China também”, continua o professor da UFABC.
“Escassez” na regulação pública
Do ponto de vista do trabalho, na opinião de Pochmann, o Brasil vive uma espécie de “escassez” na regulação pública que permitiria identificar o trabalho nesse novo mundo, “dar pertencimento” e oferecer condições para proteger os direitos. Diante da nova realidade virtual, é preciso definir situações concretas.
“Quantas horas e o que significa trabalhar em casa? Qual a remuneração?”, exemplifica o economista do Instituto Lula. Ele lembra que a entrada do 5G no país “abre enormes possibilidades” de trabalho e conexão. Mas o Brasil precisa entrar no século 21.
Com informações do Jornal PT Brasil
FONTE: AGÊNCIA SINDICAL
https://www.redebrasilatual.com.br/economia/2022/08/pochmann-questoes-trabalhistas-producao-industrial-brasil-seculo-21/
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