Já estão marcadas manifestações em Santa Catarina,
Rio Grande do Sul, São Paulo e Brasília
As Centrais Sindicais e entidades empresariais do setor produtivo se reuniram na segunda-feira (27), em São Paulo, para definir um manifesto e um calendário de mobilizações em defesa da indústria e do emprego. As lideranças sindicais e empresariais foram unânimes em apontar os juros altos e o câmbio sobrevalorizado como os principais fatores para o processo de desindustrialização que o país passa e pelo aumento exponencial das importações.
Para o presidente da CGTB, Ubiraci Dantas de Oliveira (Bira), “os juros mais altos do mundo sufocam a indústria nacional, provocando a desaceleração da economia. A produção industrial despencou de 10,5% em 2010 para 0,3% em 2011. Com esse câmbio, a desindustrialização vai transformar o Brasil em um shopping center de importados e vamos ficar sem empregos”.
“Nós consideramos que não existe crise mundial. A crise está localizada nos chamados países ricos. O baixo desempenho do PIB do Brasil registrado no ano passado se deu em função de uma política deliberada de manter os juros altos, de restrição de créditos e do corte no orçamento e dos investimentos. Não havia necessidade nenhuma de que fosse adotada uma política de desaceleração econômica. Basta ver que dezenas países tiveram crescimento, em todos os continentes, como Argentina, Turquia, Nigéria, Filipinas, sem falar na China e na Índia”, acrescentou Bira.
“Nós temos um problema grave. Empresas estão fechando em função dos maiores juros do mundo e do câmbio valorizado. Parte do governo acha que isso está bom. A imprensa não quer saber disso, pois é financiada por grupos internacionais”, afirmou o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (Paulinho).
"O governo tem que baixar mais os juros, para no máximo 1% ou 2% reais, e tem que taxar o capital especulativo. As medidas tomadas até agora são muito tímidas", avaliou Paulinho.
O presidente da CUT/SP, Adi dos Santos Lima, destacou a importância de se preservar a indústria de transformação: “O movimento que se inicia não é só dos trabalhadores e empresários. Estamos convencidos de que os trabalhadores de todas as entidades que tiverem compromisso com a indústria nacional sairão para as ruas para defender o emprego de qualidade”.
De acordo com o presidente da CTB, Wagner Gomes, a mobilização dos trabalhadores e empresários apontará para a sociedade dois caminhos distintos. “De um lado teremos o setor produtivo e do outro, os especuladores. Ou o governo pende para um lado, ou para o outro. Este nosso pacto força para definir o rumo”.
“Se não tivermos a capacidade de retomar o crescimento industrial, isso também vai afetar o comércio. Nosso movimento precisa fazer com que todos percebam qual é o Brasil que queremos”, ressaltou o presidente da UGT, Ricardo Patah.
Conforme o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, “há muitos problemas que dificultam a competitividade no Brasil, como logística e o alto preço de energia. Mas o que pega na veia é o câmbio. Um câmbio a R$ 1,65 ou R$ 1,70 é bastante diferente de um câmbio a R$ 2,30. O câmbio valorizado está matando a indústria”.
Skaf estimou que 25% dos produtos em circulação hoje no Brasil são importados. Em 1985, a indústria respondia por 27% do PIB brasileiro, caindo hoje para 15%. "Quem fala que não tem desindustrialização no país está vivendo fora da realidade", frisou. “A perda de competitividade para importados não se deve a deficiência da nossa indústria, mas pelo prejuízo artificial causado pelo câmbio”, acrescentou. “Precisamos descobrir quem foi o gênio que bolou essa estratégia”.
Inicialmente, foram marcadas quatro manifestações: Santa Catarina (28/03), Rio Grande do Sul (29/03), São Paulo (04/04) e Brasília (10/05). Esse calendário poderá ser ampliado.
As entidades empresariais e dos trabalhadores aprovaram um manifesto denominado “Grito de alerta em defesa da produção e do emprego brasileiros”, no qual apontam: “Juros altos, câmbio valorizado, guerra fiscal favorecendo as importações, entre outros fatores, incentivam artificialmente a entrada de produtos importados, fazendo com que a indústria pouco contribuísse para o crescimento do PIB em 2011. Como consequência, o crescimento total da economia deverá ficar abaixo de 3%, após crescimento de 7,5% em 2010. Esses dados revelam o descompasso entre as ações promovidas pelo governo e a realidade da indústria que demanda medidas emergenciais e efetivas”.
Transcrito do Boletim Eletrônico da CGTB nº 244