Salário mínimo necessário para manter uma família de quatro pessoas deveria ser R$ 6,3 mil, diz entidade
Pedro Rafael Vilela
Todas as capitais pesquisadas pelo Dieese registraram aumento no valor da cesta básica, em março -
Giorgia Prates
Em março, o valor do conjunto de alimentos que formam a cesta
básica aumentou em todas as 17 capitais pesquisadas pelo Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). A
pesquisa divulgada nesta quarta-feira (6) e é realizada todos os meses.
As altas mais expressivas foram registradas no Rio de Janeiro
(7,65%), Curitiba (7,46%), São Paulo (6,36%) e Campo Grande (5,51%). Já a
menor variação foi registrada em Salvador (1,46%).
Leia mais: Valor da cesta básica de fevereiro aumentou em todas as 17 capitais pesquisadas pelo Dieese
Variação do preço da cesta básica de alimentos apurada pelo Dieese em
março; Brasília é a capital onde a inflação do produto mais cresceu em
12 meses / Dieese/Divulgação
Dentre as capitais pesquisadas, a cidade de São Paulo é onde a cesta
custa mais caro atualmente, com média R$ 761,19 em março. Em seguida,
aparecem Rio de Janeiro (R$ 750,71), Florianópolis (R$ 745,47) e Porto
Alegre (R$ 734,28).
Nas cidades do Norte e Nordeste, onde a composição da cesta é
diferente das demais capitais, os menores valores médios foram
registrados em Aracaju (R$ 524,99), Salvador (R$ 560,39) e Recife (R$
561,57).
Inflação de dois dígitos
No acumulado dos últimos 12 meses, a cidade que teve o maior aumento
no valor da cesta básica foi Brasília, com inflação de 13,37% no
conjunto de alimentos. A capital tem a sétima cesta mais cara, com média
de R$ 704,65.
Aumentos de dois dígitos ao longo do último ano também foram
registrados no Rio de Janeiro (12,68%), em Curitiba (11,64%), em Campo
Grande (11,61%), em João Pessoa (11,16%), em Goiânia (11,09%), em Belo
Horizonte (10,63%) e São Paulo (10,24%).
:: No RJ, arroz e feijão têm variação de preço de até 35%, aponta Procon ::
Pelos cálculos do Dieese, o salário mínimo necessário para a
manutenção de uma família de quatro pessoas deveria equivaler a R$
6.394,76, ou 5,28 vezes o mínimo atual R$ 1.212,00. Em fevereiro, o
valor necessário era de R$ 6.012, ou 4,96 vezes o piso mínimo.
Em março de 2021, o valor do mínimo necessário deveria ter sido de R$
5.315,74, ou 4,83 vezes o mínimo vigente na época, de R$ 1.100. Os
dados mostram como a inflação tem corroído os salário dos brasileiros.
Quem recebe um salário mínimo compromete, em média, 58,57% do rendimento
para adquirir os produtos da cesta de alimentos.
Em março de 2022, o tempo médio necessário para adquirir os produtos
da cesta básica foi de 119 horas e 11 minutos, maior do que o registrado
em fevereiro, de 114 horas e 11 minutos. Para se ter uma ideia, em
março do ano passado, a jornada necessária foi calculada em 109 horas e
18 minutos. Ou seja, atualmente um trabalhador precisa trabalhar 10
horas a mais para comprar uma mesma cesta de alimentos em relação há um
ano atrás.
Preços
A pesquisa do Dieese mostra que a grande maioria dos alimentos que
compõem a cesta básica aumentou em todas as capitais. O feijão
carioquinha, por exemplo, consumido no Norte, Nordeste, Centro-Oeste,
em Belo Horizonte e São Paulo, registrou altas que oscilaram entre
1,43%, em Recife, e 14,78%, em Belo Horizonte.
Já o preço do feijão preto, pesquisado nas capitais do Sul, em
Vitória e no Rio de Janeiro, apresentou taxas entre 1,07%, em Porto
Alegre, e 6,80%, em Vitória. Mesmo com a fraca demanda interna, houve
elevação dos preços devido à baixa oferta do grão carioca e à redução da
área plantada. Em relação ao tipo preto, a alta verificada nas cidades
pode estar associada ao crescimento da procura nos centros consumidores.
Leia também: Inflação e pobreza ameaçam soberania alimentar de famílias no Distrito Federal
O óleo de soja também teve aumento em todas as capitais, entre
fevereiro e março. Em Salvador, a alta desse produto chegou a 15,89%.
Segundo o Dieese, os aumentos no mercado externo e no varejo podem ser
explicados pelo alto preço do petróleo, que torna vantajosa a produção
de biocombustíveis.
Além disso, houve aumento da demanda externa por óleo de soja, devido
à redução da produção de óleo de girassol na Ucrânia e de óleo de palma
na Indonésia.
O preço do quilo do pão francês aumentou em todas as cidades
pesquisadas, em consequência da redução da oferta de trigo no mercado
externo, uma vez que Rússia e Ucrânia, países em guerra, estão entre os
maiores produtores mundiais do grão.
As altas mais expressivas foram observadas em Aracaju (6,63%),
Goiânia (6,36%), Porto Alegre (6,13%) e Natal (5,87%). Também a farinha
de trigo, coletada na região Centro-Sul, apresentou elevações
expressivas, com destaque para as taxas de Vitória (9,30%), Campo Grande
(8,90%), Goiânia (5,75%), e Porto Alegre (5,30%).
O valor médio da farinha de mandioca, pesquisada no Norte e Nordeste,
teve elevação em todas as cidades. As maiores variações foram
registradas em Aracaju (13,52%), João Pessoa (8,94%) e Fortaleza
(4,89%). A menor oferta da raiz e o clima desfavorável explicam o
aumento, segundo a entidade sindical.
Já preço do quilo do tomate apresentou alta em 16 capitais, exceto em
Aracaju, em que o valor ficou 2,52% menor do que o mês anterior. Os
aumentos foram impressionantes em diversas capitais, chegando 57,73% em
Curitiba, 51,74% em Campo Grande e 47,31% no Rio de Janeiro.
Florianópolis (36,24%) e São Paulo (35,36%) também tiveram altar muito
expressivas do produto largamente consumido no país. O menor volume de
tomates ofertados nesta época, com a aproximação do final da safra de
verão, provocou o aumento nos preços do fruto.
O leite integral registrou elevação de preços em 16 cidades, em
março. As maiores altas aconteceram em Belo Horizonte (13,09%), Porto
Alegre (9,84%), Vitória (9,17%), Curitiba (8,73%) e Goiânia (8,37%). O
aumento nos custos da produção de leite, a diminuição nos estoques de
derivados lácteos e a competição por matéria-prima entre as indústrias
sustentaram a elevação nas cotações do leite UHT.
Em março, o preço do quilo do açúcar subiu em 15 capitais. Não o
houve aumento em Brasília e o Dieese apurou leve queda de preços do
produto em Vitória (-0,77%). As altas mais importantes aconteceram em
Salvador (3,13%), Natal (2,31%) e Belo Horizonte (1,71%). A entressafra
de cana reduziu a oferta e elevou os valores no varejo.
Por fim, preço do quilo da manteiga aumentou em 15 capitais. As altas
mais expressivas ocorreram em Belo Horizonte (5,19%), Goiânia (4,41%),
Curitiba (3,83%) e Natal (3,13%). A menor oferta de leite fez crescer a
importação de manteiga em março, o que explica as altas de preços no
varejo.
Fonte: BdF Distrito Federal
Edição: Flávia Quirino
https://www.brasildefato.com.br/2022/04/06/cesta-basica-aumenta-em-todas-as-capitais-pesquisadas-pelo-dieese-no-mes-de-marco