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quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Brasil amarga o maior juro real do mundo: 8,5%

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Edifício-Sede do Banco Central em Brasília. Foto: Marcello Casal Jr - Agência Brasil

Com a nova alta da taxa básica de juros da economia (Selic) para 13,75%, na última quarta-feira (3), pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), os juros reais, isto é descontada a inflação, atingiram 8,52% ao ano.

O Brasil é o líder no ranking mundial de juros reais, tendo mais que o dobro da taxa do 2º colocado, México (4,20%), segundo levantamento feito pelo G1 com dados compilados pelo MoneYou e pela Infinity Asset Management.

A taxa de juros real é calculada com abatimento da inflação prevista para os próximos 12 meses, sendo considerada uma medida melhor para comparação com outros países. Veja abaixo o ranking:

Com os sucessivos aumentos na Selic, o governo Bolsonaro retirou recursos públicos do povo e transferiu a bancos e demais rentistas, a título de juros da dívida pública, a soma de R$ 500 bilhões nos últimos 12 meses encerrados em maio, de acordo com informações do Banco Central. Esse é o maior patamar desde fevereiro de 2016, época que atingiu R$ 513 bilhões.

Os atuais R$ 500 bilhões representam 5,51% do PIB, porcentagem mais alta desde novembro de 2018 (5,52%). O pico, também na comparação com o PIB, foi em janeiro de 2016 (9% do PIB).

ANALISTAS: “JUROS ALTOS AGRAVAM A CRISE ECONÔMICA”

O economista José Luis Oreiro afirma que “não existe pressão de demanda sobre a economia brasileira” que justifique os aumentos da taxa de juros. “A inflação é um problema de choque de oferta persistente, mas não permanente”, disse o professor da Universidade de Brasília (UNB). “Há inflação de alimentos e de energia subindo, por conta de uma série de eventos que persistem no tempo, como: a guerra da Rússia e da Ucrânia, como os efeitos ainda da Covid-19 sobre a cadeia mundial de suplementos”. “Quer dizer, esses efeitos estão durando mais do que a gente havia esperado”, avaliou.

“Aí o que nos leva a questão de qual é a economia política que está por trás do aumento dos juros. A única razão que eu vejo, é que se trata de um governo que está em fim de mandato”, observou Oreiro, ao afirmar que “o setor financeiro, que tem uma relação carnal com o Banco Central, está se aproveitando dos últimos meses que restam do seu domínio absoluto sobre o Banco Central para fazer a maior extração de renda possível”. “Estão aproveitando que o governo está acabando para tirar o máximo proveito possível. É puro saque à economia do país”, apontou.

O economista Nelson Marconi avalia que “a alta dos juros só prejudicará mais nossa combalida economia e as pessoas endividadas”, disse o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).  Ele também considera que o processo inflacionário que o Brasil vive não é provocado por excesso de demanda. “O que influiria mesmo na redução da inflação seria a mudança da política de preços da Petrobrás e investimentos em energia, não a alta dos juros”, defendeu.

Antonio Corrêa de Lacerda, que é presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), destaca que “com os juros nas alturas, o crédito fica proibitivo. Isso inviabiliza as empresas, inviabiliza as pessoas e o próprio Estado brasileiro é onerado”, lembrou o professor da PUC/SP.

“A inflação que nós sofremos hoje vem de causas que não têm a ver com o aumento da demanda”, também avaliou. “Estamos vivendo uma situação absolutamente esquizofrênica, do ponto de vista da economia”. “A economia vai mal, o desemprego é muito elevado, as empresas estão quebrando, as famílias estão endividadas e muita gente passa fome, e o Banco Central elevando a taxa de juros, o que vai agravar estas situações”, criticou Corrêa de Lacerda.

Para Fausto Augusto Junior, que é diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), o aumento da taxa de juros compromete o crescimento econômico e a qualidade de vida das pessoas.

“Aumentar a taxa de juros é encarecer cada vez mais a vida da população, porque quando a taxa de juros aumenta, fica cada vez mais difícil você acessar algum bem por meio do crédito. O cartão de crédito chega nesses valores exorbitantes que a gente tem aí de taxa de juros. O cheque especial é a mesma coisa. De novo o que é mais um mecanismo de transferência de renda dos mais pobres para os mais ricos”, observou Fausto Júnior.

“Além disso, a gente vai assistindo mais um movimento para esfriar a economia. Uma economia que está bastante desaquecida já, com a taxa de desemprego com mais de 10 milhões de pessoas. Uma economia que não consegue gerar emprego de qualidade. A grande maioria dos empregos gerados continua sendo empregos ligados a informalidade”.

Ele acrescenta ainda “a renda média do trabalhador caindo, e aí conforme a taxa de juro vai aumentando, cada vez menos você vai ter perspectivas de crescimento. De alguma forma a gente vai assistindo em relação à taxa de juros mais um dos movimentos do atual governo de ampliação das desigualdades no Brasil.

FONTE: Jornal  

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