Com a crise no emprego informal, pobreza no Brasil volta ao patamar dos anos 2000
Ao enfrentar a pandemia do novo coronavírus de forma
irresponsável e negligente, o presidente Jair
Bolsonaro acabou por aumentar a pobreza e agravar
ainda mais a tragédia social no Brasil. Com os
impactos da Covid-19 e do descaso do governo
federal, 3,8 milhões de famílias devem retroceder na
pirâmide social e passar a integrar as classes
sociais D/E neste ano. É o que apontam estimativas
realizadas pela consultoria Tendências e publicadas
nesta segunda-feira (3) no jornal Valor Econômico.
Conforme o levantamento, a base da pirâmide social
passará a abarcar um total de 41 milhões de famílias
ao fim do ano – o equivalente a 56% dos domicílios
brasileiros. É a maior proporção desde 2009 (60%).
No ano passado, 51% das famílias brasileiras – cerca
de 37,2 milhões de lares – estavam nas classes D/E.
Quem mais vai perder é a classe C, chamada
erroneamente de “nova classe média”. O estudo mostra
que a classe C deve encolher em 1,8 milhão de
famílias, para 20,9 milhões. As classes A e B também
devem ficar menores, em 260 mil e 672 mil famílias,
respectivamente. Além delas, 1 milhão de novos
domicílios devem surgir em 2020.
Segundo Camila Saito, economista da Tendências, as
famílias de menor renda concentram as ocupações
informais. São empregados sem carteira de trabalho
assinada, trabalhadores por conta própria sem CNPJ.
Eles se dividem em ocupações tão variados como
camelôs, entregadores por aplicativo e diaristas.
“Como é sabido, os informais são os que estão
perdendo mais renda por causa da pandemia. Esse
fator deve ser o grande responsável por essa
migração de famílias da classe C para a D/E”, diz
Camila. “O auxílio emergencial deve aliviar um pouco
a renda dos informais, mas não deve compensar toda a
perda.”
Mesmo com a prorrogação do pagamento do auxílio
emergencial de R$ 600, as classes de menor renda
serão infladas. Embora o pagamento do auxílio tenha
permitido a redução da extrema pobreza durante a
pandemia, o valor do benefício é insuficiente para
manter as famílias dentro do critério de classe C.
No estudo, a Tendências classifica como classes D /E
as famílias com rendimento mensal de até R$ 2.564.
Esse é um critério próprio da consultoria, na
ausência de critérios oficiais ou usualmente
aceitos. Para a classe C, a renda vai de R$ 2.564 a
R$ 6.185. No topo da pirâmide estão as classes B (de
R$ 6.185 a R$ 19.257) e A (a partir de R$ 19.257).
A renda é usada por especialistas de diferentes
países para calcular o tamanho das classes sociais.
Há outros critérios que também podem ser adotados
para realizar essa classificação, como a posse de
bens, o nível de escolaridade, a segurança econômica
e, mesmo, a autoimagem das famílias.
O número de famílias mais ricas, da classe A, também
deve encolher neste ano. O topo da vida econômica
concentra os empregadores – grupo que tem o
rendimento atrelado à lucratividade das empresas.
Para a consultoria, a renda dos mais ricos é afetada
pelo ciclo negativo de forma mais rápida até do que
a dos trabalhadores assalariados.
Recentemente, a XP Investimentos estimou que o
Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização
e depreciação) das companhias do Ibovespa deve
baixar 73% no segundo trimestre deste ano em relação
ao mesmo período do ano passado. Dados do IBGE
mostram que a crise fechou 522 mil empresas no país.
Segundo Camila, ainda que o aumento do número de
famílias nas classes D/E possa ser transitório, a
recomposição da renda será lenta, sobretudo para os
menos escolarizados. “Além de incertezas quanto ao
nível de atividade e ao futuro das políticas ativas
sobre o mercado de trabalho, há outras restrições a
novas contratações como o fechamento recente de
empresas e o elevado ajuste no fluxo de caixa das
firmas que seguem em funcionamento”, diz ela.
Pelos números do levantamento, o Brasil foi um país
de maioria “classe média” por um curto período de
tempo. As classes A, B e C representaram somadas
mais da metade dos domicílios do país somente entre
2013 e 2015, quando chegaram a representar 52,5% da
famílias em 2014. Hoje, correspondem somados 44,1%
dos lares.
Fonte: Portal Vermelho - Do Blog de Notícias da CNTI
http://cnti.org.br/html/noticias.htm#Bolsonarismo_e_pandemia_jogam_3,8_milh%C3%B5es_de_fam%C3%ADlias_nas_classes_D/E
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