Translate

terça-feira, 18 de junho de 2013

Petrópolis - casas só para ricos

Fazem mais de dois anos após as chuvas que vitimaram quase uma centena de moradores de Petrópolis, neste ano foram mais trinta e três pessoas, foram os desabrigados.

Milhares de pessoas vivem em áreas de risco esperando que não chova, para não perderem tudo o que construíram, ou pior não morrerem no próximo verão que inEvitavelmente virá, nem os poderosos podem conseguir dete - lo.

Os políticos da cidade dizem que não existem terrenos para construção de casas para os desabrigados, como dizem também que não existem terrenos para indústrias que trariam empregos para o povo trabalhador.

Mas a despeito de tudo isso,  em Petrópolis vários condomínios de luxo estão sendo construídos, alguns de 100 unidades, para a especulação imobiliária se arranja terrenos, licenças e o que for necessário para a construção de moradias para os abastados que, só querem passar os fins de semana na cidade, descansando, enquanto nosso povo sofre sem moradias e sem emprego.

Os nossos "veículos de desinformação" sequer traçam um comentário sobre o assunto.

Mas, tal fato foi levantado pelo jornal Folha de São Paulo, do dia 02 de abril de 2013 e passaria desapercebido pela maioria da população petropolitana, não fosse o pronunciamento da Deputada Estadual Janira Rocha do PSOL que, valentemente, leu a matéria no Plenário da ALERJ.


Segue abaixo, o pronunciamento, da Deputada Janira Rocha,  sobre a matéria. O link do Youtube para assisti - lo é www.youtube.com/watch?v=P5tt8vFPsEU

DEPUTADA JANIRA ROCHA
A SRA. JANIRA ROCHA - Sr. Presidente, na verdade, eu vim hoje à tribuna falar sobre um artigo da Folha de S. Paulo a respeito da Cidade de Petropólis. Mas, antes, informo à Casa que neste momento, nas escadarias da Alerj estão mais ou menos 80 estudantes e bombeiros reivindicando ao Presidente da Casa a entrada para as galerias, para, democraticamente, se manifestarem sobre a pauta da anistia dos bombeiros e da Polícia Militar.

Juridicamente, alguns policiais militares já voltaram aos seus postos de trabalho, mas ainda faltam três, além dos 14 bombeiros excluídos.

Como todos sabem, há um Projeto tramitando nesta Casa, iniciativa de 64 Deputados encabeçados pelo Deputado Paulo Ramos, que aguarda a vinda a Plenário para votação. Estão presentes na escadaria deste Palácio entre 70 e 80 estudantes, bombeiros e servidores públicos que apoiam a causa da anistia, reivindicando a entrada para, como todos os outros setores e categorias, manifestarem-se democraticamente.

O SR. PAULO RAMOS - V.Exa. me concede um aparte?
A SRA. JANIRA ROCHA - Concedo um aparte ao Deputado Paulo Ramos. O SR. PAULO RAMOS - Deputada Janira Rocha, cumprimento V.Exa. pela manifestação, pois a anistia é mais do que exigível. Contudo, como todos sabem, o Regimento Interno não é cumprido nesta Casa e, de forma absurda, o Projeto não é incluído na Ordem do Dia. Temos ao menos alguma expectativa quanto à decisão do Poder Judiciário, na medida em que há uma ação tramitando para compelir a Presidência a incluir o Projeto na Ordem do Dia, como seria seu dever de ofício, mas não é cumprido.
Muito obrigado.

A SRA. JANIRA ROCHA - Venho me somar à manifestação que está lá fora, e grande parte daqueles manifestantes pertence ao curso pré-vestibular para estudantes carentes da Universidade Federal Fluminense, porque, durante a prisão dos 439 bombeiros em Charitas, eles estavam presentes em apoio, e desde aquela época acompanham a luta da categoria. Os bombeiros fizeram um chamado para esse apoio, os estudantes organizaram esse ato e estão, neste momento, na escadaria da Alerj reivindicando o direito de ocupar as galerias ao Presidente desta Casa. Vamos aguardar a chegada de S.Exa. para que ele autorize a entrada desses manifestantes, até porque se trata de manifestação pacífica, serena, com o direito democrático de entrar nesta Casa como qualquer outra categoria e outro setor de trabalhadores.

Deixo claro que continuamos apoiando aqueles que veementemente reivindicam nesta Casa a votação da anistia para os trabalhadores bombeiros e da Polícia Militar. Não é justo o que está acontecendo nos quartéis, há uma situação de pânico sendo imposta a esses trabalhadores, que são tratados hoje com repressão, punições e prisões. Achamos que essa política está equivocada, errada e constrói um monstro que pode ficar incontrolável mais à frente. Não há na história alguém que consiga controlar a vida inteira as contradições de um setor de trabalhadores, de um setor de classe. Este Governo conseguiu, sim, impor uma derrota ao movimento dos bombeiros em janeiro passado em função da mobilização, retomando uma ofensiva dentro dos quartéis, mas que ele não pense que vai conseguir controlar esses trabalhadores do Corpo de Bombeiros com punições, repressão e ameaças.

A semente foi jogada com a primeira luta, a primeira mobilização. Os bombeiros e os policiais militares já sabem o que é lutar e que podem conquistar com luta, conhecem as contradições que existem nessa hierarquia. Por isso, acho que nós, parlamentares, temos que ficar de olho no que vem ocorrendo nos quartéis, porque quando vier uma reação lá de dentro, pode ser que não haja capacidade de controlá-la aqui fora. A melhor maneira de tratar esses trabalhadores não é da forma como fazem hoje, mas com negociação, ponderação de interesses que eles apresentam a partir de suas pautas de reivindicação, com anistia e diálogo. Não adianta achar que será possível manter a ditadura militar nos quartéis quando ela, desde 1985 neste País, deixou de existir. Não pode haver um estado democrático de direito com territórios de exceção, e hoje objetivamente o Estado do Rio de Janeiro tenta patrocinar uma política de territórios de exceção dentro do regime democrático em nossas instituições.
Então, é um alerta que faço não necessariamente quanto ao controle visualizado agora a ser mantido por mais tempo. E entendo que a presença aqui dos estudantes e dos bombeiros nas galerias serve para essa ponderação e esse diálogo. E se nos quartéis os generais, coronéis, os comandantes não estão permitindo o acesso a diálogo, não deve a Assembleia Legislativa seguir a mesma lógica. Não acho que a Assembleia Legislativa tenha de cortar esse canal de diálogo, de negociação e ponderação.
É um absurdo que os representantes, os estudantes e todos os bombeiros que se encontram lá fora defendendo a causa dos militares não consigam ter acesso às galerias. Vamos pedir à Presidência da Casa que isso seja garantido.

 Finalmente, chamou minha atenção uma nota da Folha de São Paulo, do dia 02.04.13, com o seguinte título: "Sem casas populares. Petrópolis vê boom de condomínios de luxo". Faço questão de ler esta matéria aqui, do enviado especial a Petrópolis, jornalista Ítalo Nogueira.

(Lendo):
"Enquanto o Poder Público alega ter dificuldades em encontrar terrenos para a construção de casas populares em Petrópolis, onde 33 pessoas morreram vítimas de deslizamentos em março, a cidade está repleta de novos empreendimentos imobiliários privados.

Doações de construtoras em Petrópolis se reduzem a menos da metade. Novos condomínios são anunciados como exclusivos, com preços de 500 mil por apartamento. Há, ao menos, 24 empreendimentos à venda, em construções ou na planta. Alguns, com mais de cem unidades.

Desde 2011, quando mais de 900 pessoas morreram na Região Serrana, o Governo Estadual não concluiu nenhuma casa. Em Petrópolis, o Estado desapropriou só um terreno na cidade para a construção de 368 apartamentos. A obra ainda não começou.
Existe uma grande dificuldade de terrenos na região, principalmente em função da topografia agravada pelo impacto das enchentes que periodicamente se abateram nessas áreas", disse a Secretaria Estadual de Obras.
A indústria mobiliária conseguiu superar essas dificuldades que a Secretaria não conseguiu. Novos condomínios de luxo surgem em áreas próximas ao centro da cidade. Empresários do setor confirmam o desafio em encontrar áreas livres. Cerca de 70% do município está sob preservação ambiental".

(Conclui a leitura)

Então, como o meu tempo concluiu, estou lendo esta matéria por entender que isso é um verdadeiro escândalo. Nós tivemos 900 pessoas mortas na Região Serrana em função da enchente, das grandes chuvas, dos deslizamentos, enfim, da grande tragédia que se abateu sobre a cidade há dois anos. Até hoje, não foi construída uma única casa. Nem em Petrópolis, nem em Teresópolis. Governo Federal, Estadual e municípios juntos não conseguiram superar o problema dos terrenos e as dificuldades por eles alegadas para construírem uma única casa. No entanto, noticia aqui a Folha de São Paulo, matéria datada de 02.04.13, que existe um boom imobiliário, um boom de construção de grandes condomínios de luxo. Em Petrópolis, apartamentos estão sendo vendidos na planta por 500 mil reais. Existem hoje vários empreendimentos em andamento, anunciando condomínios exclusivos.
Isso é um escândalo, uma desmoralização que deveria ser motivo de impeachment para os responsáveis por uma tragédia como essa. Temos 33 pessoas mortas nessa última tragédia em Petrópolis - além das 900 da tragédia passada - e o Governo Federal, com toda sua estrutura; o Governo do Estado, com todo seu "progresso", seu propalado "desenvolvimento", os municípios, ninguém foi capaz de construir uma única casa!

Mas hoje há vários empreendimentos de luxoeosetorimobiliário dizendo que as chances do setor, que o aquecimento do setor imobiliário e dos condomínios de luxo é imenso.
Essa matéria do jornal deveria nos dar motivo para a abertura de uma CPI nesta Casa, mas não uma CPI para fazer saudação à bandeira, mas para responsabilizar e prender pessoas que não têm vergonha na cara, por termos uma situação como esta em nosso Estado.

Essa matéria, infelizmente, está num jornal de São Paulo porque sabemos que a maioria dos jornais deste Estado está comprada e comprometida em esconder essa realidade.

Como é matéria de São Paulo, dou publicidade e peço à Presidência que esta matéria seja publicada nos Anais da Casa.
Muito obrigada, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (José Luiz Nanci) - Está deferido o pedido de V.Exa. "Sem casas populares, Petrópolis vê "boom" de condomínios de luxo

ITALO NOGUEIRA
ENVIADO ESPECIAL A PETRÓPOLIS (RJ)
Enquanto o poder público alega dificuldade em encontrar terrenos para a construção de casas populares em Petrópolis, onde 33 pessoas morreram vítimas de deslizamentos em março, a cidade está repleta de novos empreendimentos imobiliários privados.
Doações de construtoras em Petrópolis se reduzem a menos da metade.

Novos condomínios são anunciados como "exclusivos", com preços de até R$ 500 mil por apartamentos. Há ao menos 24 empreendimentos à venda, em construção ou na planta, alguns com mais de cem unidades.

Desde 2011, quando mais de 900 pessoas morreram na região serrana, o governo estadual não concluiu nenhuma casa. Em Petrópolis, o Estado desapropriou só um terreno na cidade para a construção de 368 apartamentos. A obra ainda não começou.

"Existe uma grande dificuldade de terrenos na região serrana, principalmente em função da topografia, agravada pelo impacto das enchentes que periodicamente se abateram nessas áreas", disse a Secretaria Estadual de Obras.

A indústria imobiliária conseguiu superar as dificuldades. Novos condomínios surgem até em áreas próximas ao centro da cidade.

Empresários do setor confirmam o desafio em encontrar áreas livres. Cerca de 70% do município está sob preservação ambiental. Há também restrições de tombamentos pelo patrimônio histórico da cidade abrigou residência de férias da família imperial. Mas afirmam que o empecilho não impede que a cidade viva o aquecimento do mercado imobiliário.

"Tem que garimpar. É preciso conhecer bem a região e entender onde há abertura na legislação para fazer. Talvez a diferença seja que nós estamos focados nisso, precisamos disso para trabalhar", afirmou o diretor de uma das principais imobiliárias da cidade, que pediu anonimato.

O condomínio Villa Bella começou a ser construído no fim de 2011. Está no terreno antes ocupado por espaçosa casa de veraneio. Os futuros moradores das 32 unidades, a serem concluídas em dezembro, serão vizinhos de moradores de áreas de risco.

Os prédios estão sob do morro 24 de maio, onde há sirenes que alertam em caso de risco de deslizamento. Petrópolis tem 5 mil famílias vivendo em áreas de risco, segundo a prefeitura.

A Secretaria Estadual de Obras disse apenas que "não há comparações técnicas" entre a construção de condomínios privados e de unidades habitacionais pelo poder público. Afirmou ainda que o governo gastou R$ 6,5 milhões em compra assistida para 267 famílias que viviam em risco na cidade.

O prefeito Rubens Bomtempo (PSB) afirmou que os terrenos são caros, e que o centro da cidade está saturado. Ele disse que o número de empreendimentos "não foge da média histórica da cidade".

Bomtempo disse também que o município precisa alterar o Código de Obras, de 1976, cujas regras dificultam empreendimentos do Minha Casa, Minha Vida."

O SR. PRESIDENTE (José Luiz Nanci) - Esgotado o tempo do Expediente Inicial, a Presidência suspende os trabalhos por cinco minutos, quando retornaremos com Ordem do Dia.
Está suspensa a Sessão.

Pg. 6. Poder Legislativo. Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro (DOERJ) de 04/04/2013
Compartilhe

www.youtube.com/watch?v=P5tt8vFPsEU

(http://www.youtube.com/watch?v=P5tt8vFPsEU)




Nenhum comentário:

Postar um comentário