No Rio, presidente do Sindicato dos Comerciários relata abusos sobre os direitos de trabalhadores
A
falta de medidas do governo Bolsonaro (PSL) para alavancar a economia
se expressou na última pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), divulgado na semana passada. Em junho, indústria,
comércio e o setor de serviços tiveram queda de 1% em relação ao mês
anterior e de 3,6% em relação a junho de 2018. A desaceleração no
comércio varejista em relação a semestres anteriores afeta os donos de
lojas, mas o efeito é devastador para trabalhadores e trabalhadoras de
todo o país.
Funcionária de uma loja de telefonia em um shopping da Zona Norte do Rio, Fabiana Prates trabalha há anos na área e contou ao Brasil de Fato
que nunca viu um cenário tão ruim quanto o atual. “Até 2017, a gente
ainda conseguia vender bem e era um mercado que funcionava sozinho.
Depois, veio 2018 como um ano muito difícil, mas 2019 está sendo ainda
pior”, avalia Fabiana, que acompanha o quadro comparativo de vendas na
loja em que trabalha mês a mês e ano a ano. “Por aí, a gente vê que a
situação piorou muito”.
A funcionária lembrou que o salário de grande parte dos trabalhadores
do comércio depende do volume de vendas. “Isso se reflete no nosso
salário, porque a gente trabalha por comissionamento. Se você não atinge
a meta, você não recebe. As vendas não são mais como antes, agora ela
tem meses específicos que são bons, antes a gente tinha isso todos os
meses”.
O presidente do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro, Márcio
Ayer, confirma essa percepção e lembra que a reforma trabalhista só fez
piorar a situação dos trabalhadores. Ayer afirma que alguns dos efeitos
dos índices negativos do setor são a perda de massa salarial e o aumento
da precarização e da informalidade.
“O cenário piora quando as empresas, para impulsionar as vendas,
estimulam seus vendedores a extrapolarem suas jornadas numa tentativa
desesperada de bater metas, cada dia mais abusivas. A consequência disso
é um contingente gigante de trabalhadores estressados e que em breve
vão ficar doentes. É só imaginar o trabalhador em pé na loja, durante 12
horas, sete dias na semana”, relata o representante da categoria.
Questões trabalhistas
O que poderia parecer um filme de ficção científica distópica já é
uma realidade brasileira. Diversos setores vêm sacrificando cada vez
mais o trabalhador e avançando sobre direitos, tanto de remuneração
digna quanto de tempo para descanso e lazer. A chamada “jornada
espanhola” (48 horas em uma semana e 40 horas na seguinte).
Márcio Ayer afirma que essas modalidades, assim como a jornada de 12
horas de trabalho por 36 horas de descanso, “acabam com os direitos que
os comerciários conquistaram para o trabalho aos domingos e feriados”.
“A situação piora para quem é contratado sem carteira assinada e fica
sem garantia nenhuma de direitos. Os dados da informalidade do comércio
ainda não existem, mas não é difícil encontrar lojas inteiras
funcionando com trabalhadores sem carteira assinada. Uma dura realidade
que atinge os comerciários é que muitos compram as mercadorias da loja
em que trabalhavam e vão para as ruas vender”.
Edição: Mariana Pitasse
FONTE: BRASIL DE FATO
https://www.brasildefato.com.br/2019/08/14/queda-no-comercio-afeta-salario-precariza-trabalho-e-provoca-demissoes-em-todo-pais/
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