Ou se renova a composição do Congresso ou as
atuais práticas serão intensificadas na próxima
legislatura. E não se pode confiar apenas na pressão
da sociedade para impedir a repetição dos vícios e
práticas atuais, que levarão inexoravelmente ao
colapso do sistema representativo.
Antônio Augusto de Queiroz*
A composição do próximo Congresso, caso não haja
mudança relevante no humor do eleitor, pode ser mais
atrasada, fisiológica e pró-mercado do que a atual.
Por isso, a importância de a esquerda e a
centro-esquerda priorizar a eleição de deputados e
senadores para impedir que o pior aconteça.
A prática política dos parlamentares acomodados em
partidos de centro, centro-direita e direita,
independentemente da visão ideológica do futuro
presidente da República, vai continuar a mesma. Ou
seja, eles vão tentar manter e até ampliar o balcão
de negócios dos últimos 2 anos, tanto via partidos
quanto por intermédio de bancadas informais, pelas
razões a seguir.
Em 1º lugar porque o índice de renovação será menor
que a média histórica das últimas eleições, com a
reeleição da maioria absoluta dos atuais deputados,
que estão viciados nessa forma de fazer política.
Em 2º lugar porque a pulverização partidária
continuará enorme e os grandes partidos, com mais de
50 parlamentares, tendem a reduzir suas bancadas,
dificultando a formação de maiorias por parte do
governo.
Em 3º lugar porque as bancadas informais irão
crescer, de 1 lado, estimuladas pelas “conquistas”
que tiveram na atual legislatura, na qual o governo
atendeu a praticamente todos os pleitos dos
ruralistas, por exemplo, e, de outro, pelas
facilidades da “janela partidária”, que fragiliza a
fidelidade partidária, permitindo que o parlamentar
mude de partido sem perda de mandato.
Realmente, o governo Michel Temer – para se livrar
das denúncias e aprovar sua agenda impopular e
antinacional – viciou os parlamentares, ao
institucionalizar a troca de votos por favores e
benefícios do Estado, especialmente renúncias e
anistias fiscais.
Como decorrência do processo eleitoral,
especialmente devido ao elevado absenteísmo no
comparecimento às urnas, 2 mudanças constitucionais
ganharão força no futuro Congresso: o fim do voto
obrigatório e a candidatura avulsa.
No caso da extinção do voto obrigatório, 2 fatores –
que estarão presentes no atual processo eleitoral –
poderão ser determinantes.
O 1º é que quase metade dos eleitores irão se abster
de votar, vão votar branco ou anular o voto, o que
demonstrará a falência de obrigatoriedade do voto.
O 2º é que o baixo comparecimento dos eleitores fará
com que os eleitos – presidente, governadores,
senadores e deputados – passem a representar pouco
mais de 1/3 da população, ampliando a crise de
representatividade.
Sobre as candidaturas avulsas, 2 também fenômenos
tendem a ser determinantes. O 1º será o crescimento,
também do fortalecimento, das bancadas informais. O
2º, a “janela partidária”, que permite ao
parlamentar mudar de partido sem perda de mandato.
Em relação à agenda de reformas, esses parlamentares
mais à direita do espectro político, por seus
vínculos com o mercado, tendem a apoiar mudanças com
viés liberal-fiscal, de 1 lado voltadas para o
Estado mínimo e, de outro, direcionadas ao desmonte
dos serviços públicos, ao corte de gasto público e à
repulsa à criação ou majoração de tributos.
Num cenários desses ganha força a agenda de
privatizações, a reforma administrativa, com
terceirização, redução de órgãos e pessoal, e a
reforma da Previdência, com ampliação da idade e do
tempo de contribuição e com redução do benefício.
Para se contrapor às práticas, aos vícios e à agenda
neoliberal, além da pressão da sociedade, é preciso
a eleição de robusta bancada de centro-esquerda e
esquerda, seja para dar respaldo a 1 governo
comprometido com o interesse nacional e a proteção
social, seja para fazer oposição a um governo
liberal-fiscal.
A confirmação ou não dessas tendências e riscos
depende do eleitor. Só a consciência dessa
possibilidade é que poderá forçar o eleitor a
escolher deputados e senadores que fujam a esse
padrão. Ou se renova a composição do Congresso ou as
atuais práticas serão intensificadas na próxima
legislatura. E não se pode confiar apenas na pressão
da sociedade para impedir a repetição dos vícios e
práticas atuais, que levarão inexoravelmente ao
colapso do sistema representativo.
(*) Jornalista, consultor, analista político e
diretor de Documentação do Diap. Texto publicado
originalmente na revista eletrônica “Teoria &
Debate”.
Fonte: Diap - do site da CNTI http://cnti.org.br/html/noticias.htm#Que_Congresso_queremos_na_pr%C3%B3xima_legislatura
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