Levantamento do Ministério Público
do Trabalho mostra que 4 milhões de trabalhadores se acidentaram no
Brasil entre 2012 e 2017
Publicado: 17 Março, 2018 - 10h15 | Última modificação: 17 Março, 2018 - 12h01
Escrito por: Júlia Dolce, Brasil de Fato
Roberto Parizotti
A cada quatro horas e meia, uma
pessoa morre por acidente de trabalho no Brasil. Entre 2012 e 2017,
foram registrados 4 milhões de acidentes ou doenças de trabalho, sendo a
maior parte (15%) causada por máquinas e equipamentos.
A informação foi divulgada no último dia 5 de março pelo Observatório
Digital de Saúde e Segurança do Trabalho, plataforma desenvolvida pelo
Ministério Público do Trabalho (MPT). Especialistas consultados pelo Brasil de Fato alertam que esse número pode ser ainda maior, já que o dado não representa a totalidade de acidentes do tipo no país.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), que também
participou do desenvolvimento do Observatório, a cada acidente de
trabalho notificado oficialmente, outros sete não são relatados. Isso
porque os dados oficiais não abrangem os trabalhadores informais.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE ), o trabalho informal representou grande parte dos empregos
gerados no país em 2017. De 1,8 milhão de postos de trabalho gerados no
último trimestre do ano passado, 589 mil vagas surgiram sem carteira de
trabalho assinada.
Além disso, Leonardo Osório, Procurador do Trabalho e Coordenador
Nacional de Defesa do Meio Ambiente de Trabalho do MPT, alerta para o
fenômeno da subnotificação, uma vez que o Observatório do MPT se baseia
apenas nos acidentes de trabalho notificados pelas empresas e
reconhecidos pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). "Esses
são os números oficiais e possíveis de ser obtidos hoje, mas os dados
reais são bem maiores", afirma.
Segundo Osório, há uma estimativa de que mais de 95% dos acidentes no
banco de dados do Observatório do MPT poderiam ter sido evitados, sendo
causados, principalmente, pela precarização dos ambientes de trabalho.
"Existem muitos métodos e ambientes de produção totalmente
desorganizados. Não existe uma preparação para os trabalhadores, um
treinamento de acordo com as horas mínimas exigidas pelas normas
reguladoras, fazendo com que o trabalho seja feito de forma totalmente
precarizada e amadora", destaca.
De acordo com o médico e professor universitário Herval Pina Ribeiro,
ex-secretário estadual de Saúde da Bahia (1987-1989) e autor de livros
sobre a saúde do trabalhador, nenhum dado é confiável o bastante para
refletir a realidade dos acidentes do trabalho, principalmente no atual
contexto político.
Não há uma subnotificação, há uma não notificação. É um genocídio, estão matando a classe trabalhadora.
Segundo ele, a média de idade da classe trabalhadora é de 50 anos e
muitos morrem por acidente de trabalho. "Isso é uma questão de classe
social, quem é pobre morre mais cedo, e em geral de trabalho, quem é
rico vive muito mais. Com esse Estado, que deu uma volta para trás,
obviamente tudo piora. Até porque, os dados sobre isso são sonegados,
não se consegue nenhum dado confiável", denuncia.
"A pior experiência da minha vida"
Os dados do Observatório do MPT mostram que as categorias com mais
comunicações de acidentes de trabalho são: alimentador de linha de
produção (5,49%), técnico de enfermagem (4,83%), faxineiro (3.06%) e
servente de obras (2,94%). Já o estado com maior registro de acidentes
ocupacionais é São Paulo, seguido por Minas Gerais e Rio de Janeiro.
A trabalhadora Juliana Paulino, de 28 anos, representa o topo de
ambas as estatísticas. Operária de máquina em uma linha de produção de
uma indústria que confecciona etiquetas na capital paulista, há cerca de
um ano, ela teve sua mão prensada por uma máquina recém adquirida, que
nunca havia operado, e sofreu queimaduras de segundo grau.
"Eu fiz cirurgia, coloquei enxerto, fiquei seis meses afastada. Para
mim, foi uma experiência péssima, porque a empresa não deu assistência
nenhuma. Eu fiquei sem movimento na mão por um bom tempo, meu dedo ainda
está torto e eu não tenho força na mão. Foi a pior experiência da minha
vida", relata.
"Meu chefe me ligou no dia da cirurgia, e explicaram que a máquina
estava montada errada mesmo, e que a causa do acidente não tinha sido
eu. Depois de seis meses afastada, aconteceu de uma colega prender o
dedo na mesma máquina", denuncia.
Na época do acidente, Juliana descobriu que estava grávida e que
havia perdido o bebê como consequência da cirurgia. "Eu nem poderia
estar trabalhando nessa área se soubesse que estava grávida", afirma.
Juliana teve que esperar quatro meses até conseguir o auxílio do
INSS. Segunda ela, só voltou a trabalhar na mesma empresa por
necessidade.
Edição: Thalles Gomes
FONTE: site da CUT (Central Única dos Trabalhadores)
https://www.cut.org.br/noticias/no-brasil-uma-pessoa-morre-de-acidente-de-trabalho-a-cada-4-horas-e-meia-227a
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