Para Clemente Ganz Lúcio, desemprego,
informalidade e precarização permanecerão em 2022.
Os elevados níveis de desemprego e de subocupação,
atingidos pelo Brasil durante o Governo Bolsonaro,
só poderão ser revertidos com uma virada na política
econômica. Sob a cartilha do ministro Paulo Guedes,
avesso à presença do Estado na economia, o mercado
de trabalho chegou a um patamar de precarização em
que o desenvolvimento do país ficou comprometido
para além dos efeitos da pandemia.
O alerta é do sociólogo Clemente Ganz Lúcio,
ex-diretor técnico do Departamento Intersindical de
Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese),
segundo o qual há postos sendo retomados agora, mas
ainda em patamar de insegurança pelo nível da
pandemia. No segundo trimestre de 2021, o desemprego
ficou em 14,1% medido pela Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“No ano que vem, como está sendo indicado um
crescimento muito baixo da economia brasileira, vão
permanecer o desemprego, a informalidade e a
precarização elevada como características presentes
na economia brasileira”, prevê o sociólogo.
Ele lembra que o Brasil passa por um longo período
de desindustrialização, desde os anos 1990, processo
que foi desacelerado apenas no Governo Lula, que
trouxe a perspectiva de um projeto de
desenvolvimento em que o Estado tinha um papel
industrial: “Não é o caso do governo Bolsonaro. Mas,
na América Latina, ou o governo faz isso ou não será
o mercado que vai ditar uma economia exitosa desse
tipo”.
Informalidade
Com a desindustrialização, os melhores postos de trabalho são atingidos, ocasionando perda de renda e de capacidade de consumo, o que rebate em outros empregos mobilizados pelo emprego industrial. “A pandemia se sobrepôs a essa dinâmica de baixo crescimento econômico e desindustrialização. E, como o impacto da crise sanitária foi bastante grande especialmente no setor de serviços, tende a ser agravado o problema da informalidade. A informalização somente não cresceu porque foram destruídos também postos de trabalho informais”, ressalva.
O especialista lembra que, embora o país tenha a
categoria do Microempresário Individual (MEI) como
instrumento para enfrentar a informalidade, os MEIs
são postos de trabalho com baixa renda. “Não adianta
ter MEI se a renda é tão baixa que a pessoa não
consegue contribuir com a Previdência porque precisa
usar essa renda para comer”, critica.
Falta de investimentos
Na opinião do ex-diretor técnico do Dieese, ainda que conforme a vacinação avance a tendência seja de que o desemprego se reduza, o país não conseguirá voltar ao patamar de postos de trabalho anterior à pandemia: “Algumas atividades não retomam. Vai depender da perspectiva econômica do Brasil daqui para a frente, mas o contexto político torna o cenário muito nebuloso e os investidores não têm segurança de fazer investimentos”.
Neste sentido, as sequelas deixadas pelo Governo
Bolsonaro ao trabalhador brasileiro não serão
curadas no curto-prazo. “A economia voltada para o
investimento, a pesquisa em inovação, o adensamento
da base industrial, puxam um setor de serviços mais
dinâmico, mais moderno, de melhor qualidade. Esse
ciclo mais estruturante propicia um mundo do
trabalho mais protegido. Mas, sempre que é perdido o
dinamismo industrial e, portanto, há um desincentivo
a investimento em educação, o que se tem é o aumento
da defasagem entre a tecnologia e a formação dos
trabalhadores”, disse Ganz Lúcio. “É o que está
acontecendo durante o Governo Bolsonaro. “As pessoas
não investem em formação de ponta porque vão
trabalhar como Uber. E, para reverter esse processo,
apenas um mandato de governo não resolve: podem ser
necessárias até duas décadas de política
continuada”, estima.
Fonte: Portal Vermelho - Do Blog de Notícias da CNTI
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