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quarta-feira, 11 de junho de 2025

Ricardo Patah, presidente da UGT, fala na 113 Conferência da OIT em nome dos trabalhadores brasileiros

 




Sou Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores do Brasil. Trago comigo a voz de milhões de trabalhadores e trabalhadoras brasileiros, representados por seis centrais sindicais nacionais, e o compromisso inabalável com a dignidade, a justiça social e a democracia.


Hoje, mais do que debater políticas, estamos aqui para reafirmar que o trabalho é o alicerce da dignidade humana. É o trabalho que constrói economias, sustenta famílias, gera conhecimento e move o mundo. Mas é também o trabalho que, ainda hoje, é exercido sob condições indignas, desvalorizado e ameaçado por profundas transformações.


Vivemos uma transição histórica. A digitalização, a automação e a inteligência artificial remodelam o mundo do trabalho em ritmo acelerado. Essas inovações podem ampliar oportunidades, mas, sem uma regulação justa, aprofundam desigualdades e precarizam relações. O trabalho em plataformas digitais, por exemplo, não pode ser sinônimo de desumanização. É urgente garantir direitos básicos: jornada digna, remuneração justa, proteção social, direito à organização sindical e à negociação coletiva.


A Conferência deste ano, ao debater o trabalho decente na economia de plataformas e a transição da informalidade para a formalidade, nos convoca à inovação e à coragem. Precisamos de sindicatos que incorporem tecnologia, aprimorem sua comunicação e ampliem sua capacidade de representação, especialmente junto aos jovens e aos mais vulneráveis. Para avançarmos na construção de uma normativa internacional para a regulamentação do trabalho em plataformas, é fundamental que as bancadas e os Estados Membros mantenham o compromisso de dialogar e construir consensos que garantam proteção e dignidade a todos os trabalhadores.


A crise climática, por sua vez, exige uma transição ecológica justa. Não há justiça ambiental sem justiça social. Às vésperas da COP 30, que acontecerá no Brasil, temos a oportunidade histórica de transformar compromissos globais em ações concretas, garantindo que a transição só será justa se incluir os trabalhadores desde o início, com políticas de requalificação, proteção e diálogo social efetivo.


É inaceitável, em pleno século XXI, conviver com trabalho forçado, o trabalho infantil, a discriminação, a informalidade extrema e a desigualdade de gênero. As mulheres seguem enfrentando múltiplos obstáculos e, por isso, a ratificação e implementação da Convenção 190 da OIT deve ser prioridade global. Valorizar o trabalho das mulheres é questão de justiça, desenvolvimento e democracia.


A OIT, com sua natureza tripartite, é exemplo de diálogo social. Mas é preciso garantir que a voz dos trabalhadores seja efetivamente considerada na construção das políticas internacionais. Reivindicamos o fortalecimento da negociação coletiva, a proteção aos direitos trabalhistas, a valorização dos sindicatos e o combate à perseguição de representantes dos trabalhadores.


No Brasil, protagonizamos uma luta histórica pela redução da jornada de trabalho, combatendo o arcaico regime 6x1, que submete milhões de pessoas a uma rotina exaustiva e desumana. Reduzir a jornada não é apenas uma questão de saúde e bem-estar, mas também de justiça social e dignidade. É uma pauta que une trabalhadores, sindicatos e sociedade em busca de um futuro mais humano e equilibrado.


O governo do presidente Lula tem resgatado o protagonismo dos trabalhadores, promovendo o diálogo social e a valorização do trabalho digno.


Permitam-me, neste momento de perdas recentes, homenagear duas vozes fundamentais da nossa era. Papa Francisco, que nos deixou este ano, nos lembrou que os sindicatos são chamados a dar voz a quem não tem, a defender os mais frágeis e a manter viva a chama da solidariedade. E Pepe Mujica, símbolo da luta por justiça social, sempre afirmou que a dignidade do trabalhador é insubstituível, mesmo diante dos avanços da automação.


Companheiros e companheiras, o progresso econômico precisa caminhar junto com o progresso social. O lucro não pode estar acima da vida. A tecnologia não pode estar acima da ética. O futuro do trabalho deve ser construído com justiça, equidade e solidariedade.


Neste momento histórico, temos a responsabilidade de honrar aqueles que vieram antes de nós e de abrir caminhos para quem virá depois. Que a memória de Papa Francisco e Pepe Mujica inspire cada decisão tomada nesta Conferência. Que possamos, juntos, transformar indignação em ação, medo em coragem, e desafios em oportunidades de justiça e solidariedade.


Sigamos firmes, de mãos dadas, para que nenhum trabalhador seja invisível e nenhum direito seja negado. Que de cada voz e cada voto, nasça um novo tempo de respeito, inclusão e esperança para todos. 

FONTE: Site da U.G.T. (União Geral dos Trabalhadores - https://www.ugt.org.br

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