O diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto
Junior, atribui a queda no produção industrial à
redução no consumo das famílias. Com menos empregos
no setor, massa salarial deve cair ainda mais
A produção industrial registrou queda de 0,7% em
agosto na comparação com o mês anterior, de acordo
com dados do IBGE divulgados nesta terça-feira (5).
É a terceira retração mensal consecutiva. Com esse
resultado, a produção na indústria setor ficou 2,9%
abaixo do patamar de registrado em fevereiro de
2020, ainda antes da pandemia. E 19,1% abaixo do
nível recorde registrado em maio de 2011.
Para o diretor-técnico do Dieese, Fausto Augusto
Junior, a queda no setor industrial aponta para a
frágil retomada da economia. Uma das causas dessa
retração, segundo ele, está relacionada com a
redução do consumo das famílias. Nesse sentido, ele
aponta para o risco de um “ciclo vicioso” que deve
agravar ainda mais as perspectivas de recuperação.
Isso porque a indústria é responsável pelos empregos
mais qualificados, que pagam os melhores salários.
Logo, a redução da produção industrial aponta para o
aumento do desemprego nesse setor, reduzindo ainda
mais a massa salarial, impactando negativamente no
consumo.
“Conforme a renda das famílias vem caindo, vai
travando esse setor que é bastante significativo.
Por outro lado, estamos assistindo a um processo de
intensificação das importações, substituindo a
produção nacional por produtos que vêm de fora”,
explicou Fausto em entrevista a Glauco Faria, para o
Jornal Brasil Atual, nesta quarta-feira (6).
Outros fatores da queda na indústria
Dentre os setores industriais, a produção de bens de consumos duráveis é um dos mais impactados pela perda de dinamismo. Já são oito meses seguidos com taxas negativas, acumulando queda de 25,5% no período. Além da redução do poder de compra da população, Fausto também aponta para o aumento da taxa básica de juros com um dos fatores que contribuem para essa retração. Além disso, as indústrias também tem sofrido com sucessivos aumentos nos preços dos combustíveis e da energia elétrica, insumos básicos para a produção.
De acordo com o diretor-técnico do Dieese, a
indústria sofre com a falta de uma política
estratégica. Nesse sentido, ele destaca o
desmantelamento do Ministério da Indústria, Comércio
Exterior e Serviços, que foi incorporado ao
Ministério da Economia, no início do governo
Bolsonaro. O setor também carece de linhas
específicas de financiamento. “Até mesmo a divisão
industrial do BNDES, a principal base de
investimento, foi desmontada”.
A saída, segundo Fausto, é apostar no fortalecimento
do mercado interno, o que poderia inverter esse
ciclo. A valorização dos salários, por exemplo,
acarretaria na elevação do consumo das famílias que,
por sua vez, impactaria no aumento da produção. Mas
tudo isso depende de decisões políticas que foram
abandonadas pelo atual governo.
Fonte: Rede Brasil Atual
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