Especialistas afirmam que experiência espanhola coloca os direitos trabalhistas no centro da discussão também no Brasil
No final do ano passado, sindicatos, empresários e o
governo da Espanha fecharam um acordo para revogar a
reforma trabalhista aprovada em 2012. Naquele país,
um decreto presidencial com as mudanças já está em
vigor, mas ainda precisam ser aprovadas
definitivamente no Parlamento. Após uma década, a
reforma resultou na precarização do mercado de
trabalho espanhol, com aumento da informalidade. O
aumento dos contratos temporários levou à estagnação
nos salários. Agora houve uma “correção de rumos”,
de acordo com sociólogo Clemente Ganz Lúcio,
ex-diretor técnico do Dieese. Nesse sentido, a
experiência espanhola também serviu para colocar o
resgate dos direitos trabalhistas no centro da
discussão no Brasil.
Dessa maneira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva indica que deve adotar caminho semelhante por
aqui, em um eventual novo governo. Na semana
passada, junto com representantes de seis centrais
sindicais brasileiras, Lula teve um encontro virtual
com os espanhóis, principalmente para detalhar as
mudanças que vem ocorrendo naquele país.
“O que ocorreu na Espanha é um acordo inédito de
recuperação de direitos trabalhistas”, destacou a
economista e pesquisadora do Centro de Estudos
Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade
Estadual de Campinas (Cesit-Unicamp) Marilane
Teixeira. Clemente e Marilane participaram, nessa
segunda-feira (17), de um debate promovido pela
Fundação Perseu Abramo, traçando um paralelo entre
as experiências brasileira e espanhola. Ambos
apontaram inúmeras similaridades.
No Brasil, destruição
No Brasil, em 2017, a “reforma” trabalhista realizada durante o governo Temer, alterou mais de 200 dispositivos da legislação trabalhista. Como na Espanha, a promessa era que milhões de postos de trabalho seriam criados nos anos seguintes. O que também não aconteceu. Dentre as principais inovações, formas precárias de contratação, como o contrato temporário. Além disso, as empresas também passaram a poder negociar diretamente com os trabalhadores, sem a intermediação dos sindicatos.
“A reforma brasileira, ela foi grandemente inspirada
pela reforma espanhola. Tanto em relação à
prevalência dos acordos das empresas sobre os
acordos por categoria, como também na questão do fim
da ultratividade”, disse Marilane.
Essas formas precárias de contratação, segundo ela,
serviram apenas para aproximar a formalidade da
informalidade. “Os dados, no entanto, mostraram que,
de 2017 para cá, o que mais cresceu foi o trabalho
por conta própria e o trabalho informal. O que não
tem nada a ver com essas novas formas de
contratação.”
Na Espanha, valorização do emprego
Os especialistas destacaram a valorização do emprego como eixo central da iniciativa espanhola. Contratos com prazo indeterminado passarão ter prevalência sobre os temporários. Assim, os espanhóis pretendem limitar os contratos de curta duração a casos específicos, como na substituição temporária dos trabalhadores, afastados por questões de saúde, por exemplo. Com duração, até mesmo, de dias, eram formas “aviltantes” de contratação, segundo Clemente. Um dos objetivos era eliminar as responsabilidades das empresas do descanso remunerado aos finais de semana.
Com efeito, o foco agora está colocado na criação de
empregos de qualidade. E, acima de tudo, na garantia
de estabilidade para os trabalhadores espanhóis.
“Além de ter o emprego, é preciso ter segurança de
que você não vai perde-lo daqui dois ou três meses”,
ressaltou Marilane. O que a reforma trabalhista
acarretou no Brasil, segundo ela, foi justamente o
contrário.
Para Clemente, os sindicatos espanhóis também saíram
valorizados com o novo acordo. Ele afirmou, assim,
que as negociações coletivas passaram a serem vistas
como forma de garantir a repartição dos ganhos de
produtividade entre capital e trabalho. Dessa
maneira, ele acredita que a massa salarial entre os
espanhóis deve aumentar nos próximos anos. Do mesmo
modo, em função do aumento do poder de compra dos
trabalhadores, os empresários devem ampliar os
investimentos.
“O que anima o investimento para ampliar sua
capacidade produtiva é a certeza de que a demanda na
sociedade crescerá. Essa certeza se dá se, ao olhar
para o futuro, a sociedade identifica que a
qualidade dos empregos e do crescimento dos salários
faz parte de um projeto de desenvolvimento”,
explicou.
Fonte: Rede Brasil Atual - Do Blog de Notícias da CNTI
https://cnti.org.br/html/noticias.htm#Espanha_aposta_no_resgate_dos_direitos_trabalhistas_para_fortalecer_economia
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