A seguir transcrevemos excelente artigo, escrito por Juneia Batista, Graça Costa e Maria Júlia Secretárias da Mulher Trabalhadora, das Relações de Trabalho e de Combate ao Racismo da CUT (Central Única dos Trabalhadores), sobre trabalho decente e a onda neoliberal que varre os direitos da classe trabalhadora.
A definição do que seja trabalho
decente, bem como, as formas para atingir esse objetivo tem sido um dos
grandes desafios das sociedades. A Organização Internacional do
Trabalho aprovou em 1999 o conceito de Trabalho Decente e assumiu como
uma de suas prioridades de ação junto aos governos. A partir dessa
deliberação a Confederação Sindical Internacional (CSI), definiu o dia 7
de outubro, como Dia Mundial em defesa do Trabalho Decente.
Porque o trabalho decente como objetivo?
As frequentes crises em âmbito mundial têm, na maioria das vezes,
servido para justificar o avanço do desemprego, subemprego e trabalho
precário, modalidades cada vez mais presentes no mercado de trabalho e
se apresentam em todos os segmentos e setores econômicos e sociais, sem
distinção.
Relações de trabalho no Brasil – negação do trabalho decente
As relações de trabalho no Brasil,
sempre foram baseadas na ausência de democracia, transparência e do
diálogo para a solução de conflitos, sejam nos locais de trabalho ou nas
esferas em que se realizam as negociações, estas, sempre permeadas pelo
autoritarismo dos senhores do engenho e da casa grande. As práticas
antissindicais diante das greves, são exemplos da intolerância à luta
por direitos.
Não avançamos na democracia e
transparência das empresas que permanecem fechadas sem prestar contas à
sociedade, muito embora, obtenham volumosos empréstimos ou benefícios do
Estado.
Muito embora tenhamos passado por uma
década de crescimento do emprego formal no último período (2003-2016),
com políticas de investimentos e de distribuição de renda, sendo o
trabalho o principal elemento nos rendimentos, o fato de não termos
avançado na democratização das relações de trabalho no período em
referencia, pode ter diminuído a resistência e facilitado à retirada de
direitos historicamente conquistados. A contrarreforma aprovada devolve o
País ao século XVIII.
Neste dia mundial pelo Trabalho Decente – temos muito a denunciar, Por quê?
A quebra de compromissos assumidos pelo
estado brasileiro junto a OIT para a construção de uma Agenda de
Trabalho Decente para o país foi destruída com as reformas impostas pelo
desgoverno Temer.
Porque não temos nada a comemorar nesta data.
As contrarreformas, a exemplo da trabalhista e a PEC da morte, que
congela por 20 anos os investimentos em saúde e educação compromete o
papel do Estado enquanto garantidor dos direitos fundamentais e da
proteção social.
A contrarreforma trabalhista realizada
sem qualquer debate com a sociedade, retira dos trabalhadores e
trabalhadoras o acesso ao trabalho seguro, regulado e de qualidade com
salários dignos, condições de trabalho adequadas, direito a liberdade
sindical e a negociação coletiva, proteção contra doenças no trabalho,
garantia a aposentadoria e ao diálogo social.
Essa quebra de compromissos demonstra o
objetivo do desgoverno Temer de destruir o estado enquanto garantidor de
direitos e transformá-lo em garantidor de “privilégios” dos mais ricos.
Essa mudança em relação aos governos anteriores já apresentam seus
reflexos na geração de emprego com trabalho decente e no pacto de
gerações instituído pela CF de 88. Volta à baila a pauta neoliberal com
“nova” roupagem denominada de “modernização do trabalho” contida na Lei
13.467/17 com vistas a excluir qualquer proteção a mulheres e homens da
classe trabalhadora. Neste bojo encontram-se: jornadas de 12 horas sem
pagamento de horas extras e sem participação dos sindicatos na
negociação para este fim, permissão de trabalho da gestante e lactante
em locais insalubres, restrição do acesso à justiça do trabalho,
diminuição do papel dos sindicatos sobre vários direitos coletivos,
dentre outros absurdos.
Além da contra reforma aprovada, outros
temas voltam a pauta, o trabalho escravo, com proposta de projeto de lei
(que define lugar de moradia e comida como pagamento de trabalho no
meio rural); trabalho infantil, que volta a crescer com o aumento do
desemprego e das políticas de inclusão social; acesso a aposentadoria,
volta à pauta a discussão sobre a reforma da previdência que retira o
direito dos mais pobres a se aposentar, em especial os/as rurais e as
mulheres, em especial as negras, já que estas têm, em sua maioria, o
trabalho irregular e descontinuado.
A juventude que hoje já atinge mais de
27% de desempregados, corre o risco de cair no total desalento, sem
trabalho, ou em trabalhos precários, informais, temporários,
intermitente e desprotegido. Este processo, sem dúvida, contribuirá para
a quebra do pacto de gerações em relação à previdência e a própria
seguridade social.
Do ponto de vista da seguridade social a
destruição das políticas de inclusão voltadas à população mais
vulnerável, somada a desregulação do trabalho protegido nos levarão em
curto prazo a uma catástrofe social sem precedentes.
A retirada de direitos tem composto a
pauta do neoliberalismo no mundo todo e no Brasil fez-se o banquete.
Neste dia Mundial do Trabalho Decente, DENUNCIAMOS o desmonte das
políticas de proteção voltadas a garantir o Trabalho Decente. Nada temos a comemorar, mas RESISTIREMOS até a derrota final do golpe!!
SOMOS CUT, SOMOS FORTES!!!!
NENHUM DIREITO A MENOS!!!
Escrito por:
Juneia Batista, Graça Costa e Maria Júlia Secretárias da Mulher Trabalhadora, das Relações de Trabalho e de Combate ao Racismo da CUT
Publicado em: 09/10/2017
Do Site da CUT - https://cut.org.br/artigos/trabalho-decente-e-os-retrocessos-no-brasil-b1f6/
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