O Brasil reabre o caminho do desenvolvimento econômico e socioambiental no qual o incremento da produtividade, a crescimento dos salários, a geração de empregos de qualidade, a superação da miséria, da pobreza e da fome são objetivos estratégicos.
Nesse novo contexto prospectivo a política de
valorização do salário mínimo se recolocará como um
dos instrumentos para alavancar esse conjunto de
transformações desejadas.
Agora o Brasil se colocará novamente em sintonia com
outros países que tomam iniciativas importantes para
o estabelecimento de políticas de promoção e
valorização do SM. Por exemplo, instâncias de
governança da União Europeia tratam da da
implementação de diretrizes e regras para o SM na
região. O Parlamento Europeu aprovou, por ampla
maioria[1],
diretrizes propostas pela Comissão Parlamentar do
Emprego e dos Assuntos Sociais para assegurar aos
trabalhadores um SM justo e adequado. Essa
deliberação autoriza o Parlamento a iniciar
tratativas com o Conselho (representação dos 27
governos nacionais) para dar forma final à
legislação que regulará a política de SM.
Entre as diretrizes aprovadas pelo Parlamento
destacam-se: o SM deve promover uma política de
proteção da base salarial, assegurando um nível de
vida decente aos trabalhadores e suas famílias;
valorização da negociação coletiva para que fique
garantida a proteção para no mínimo 80% dos
trabalhadores, com autonomia sindical e liberdade de
filiação; promoção de políticas de manutenção e
valorização anual do SM para que atinja 60% do
salário médio bruto, entre várias outras diretrizes[2].
As fundamentações que justificam essa iniciativa
mostram que todos os 27 países da União têm
legislação em relação ao SM, sendo 20 com valor
definido na lei e, complementarmente, nas
negociações coletivas e em nos outros 7 países a
regulação é definida em negociação coletiva. O
diagnóstico evidencia que a remuneração mínima não
consegue cobrir o orçamento familiar e o custo de
vida de 7 entre cada 10 trabalhadores que recebem SM
na região. Os problemas das desigualdades salariais
foram ressaltados na crise sanitária e evidenciaram
a necessidade de políticas para promover um SM
decente. O intenso e arriscado combate ao vírus
revelou que muitos daqueles que estiveram à frente
desse trabalho recebem SM (cuidadores, trabalhadores
da saúde, nas creches, na limpeza, entre outros).
Cerca de 60% daqueles que recebem SM são mulheres.[3]
O Brasil implementou uma política de valorização do SM a partir de 2004 que foi fruto das negociações entre o Governo Lula e as Centrais Sindicais. Esses acordos foram materializados na Lei 12.328/2011, renovada e em vigor até 2018. O governo Bolsonaro extinguiu a política de valorização do SM, deixando-o inclusive com uma perda para a inflação.
Desde 2002 a política de valorização garantiu um
aumento real de mais de 78%[4],
já descontada a inflação. Atualmente o valor do SM é
de R$ 1.212,00, dos quais R$ 533,80[5]
correspondem ao aumento real, o que incrementa
anualmente em mais de 390 bilhões a massa de
rendimentos da economia.
Será fundamental que a política de valorização do SM, estruturada como parte das políticas de desenvolvimento produtivo que incrementa a produtividade do trabalho e sustenta o crescimento dos salários.
A agenda da política de valorização do SM recoloca questões fundamentais, o combate às desigualdades, o crescimento da base salarial e a sustentação da demanda pelo poder de compra das famílias. Promovê-la por meio do diálogo social e da negociação coletiva é um princípio fundamental, deve-se buscar uma distribuição mais justa do incremento da produtividade, da renda e da riqueza gerada pelo trabalho de todos.
Observada de forma mais ampla, a política de valorização do SM é parte de um novo arcabouço regulatório das relações de trabalho, no qual a valorização da negociação coletiva e do diálogo social, o fortalecimento dos sindicatos, da sua representatividade e ampla base de representação, de mecanismos ágeis de solução de conflito, de instrumentos que promovem a autorregulação e a autonomia da organização de trabalhadores e empresários.
Clemente Ganz Lúcio, sociólogo, assessor do Fórum
das Centrais Sindicais e ex-diretor técnico do
DIEESE. (2clemente@uol.com.br).
[1] Foram 443 votos a favor, 192 contra e 58 abstenções.
[2] https://www.europarl.europa.eu/doceo/document/A-9-2021-0325_EN.html#title1
[3] https://www.europarl.europa.eu/news/pt/headlines/society/20210628STO07263/a-acao-do-parlamento-europeu-em-prol-do-salario-minimo-adequado
[4] DIEESE, Nota Técnica 265 de dezembro de 2021, https://www.dieese.org.br/notatecnica/2021/notaTec265SalarioMinimo.html
[5] Sem o aumento real de 78,7% o valor do SM seria de R$ 678,00.
Fonte: Poder 360 - Do Blog de Noticias da CNTI
Nenhum comentário:
Postar um comentário