Considerando todas as classes, 42% afirmam ter alguma dívida atrasada em função de empréstimos tomados nos últimos meses, revela estudo feito pelo instituto de pesquisas Plano CDE. Endividamento da população C, D e E também indica “a situação grave” do país
São Paulo – Estudo conduzido pelo instituto de pesquisas Plano CDE revela que as populações mais pobres – das classes C, D e E – tomaram empréstimos ao longo dos últimos meses principalmente para comprar comida e pagar as contas básicas. Questionados sobre o motivo ou por que buscariam um empréstimo, entre 45% e 50% dos entrevistados dessas classes indicaram que a alimentação e as contas do mês foram ou seriam a principal finalidade.
As informações são do jornal Folha de S. Paulo, que divulgou a pesquisa na noite de ontem (27). A necessidade indicada pelos mais pobres chamou atenção do diretor do instituto Plano CDE, Maurício Prado. Segundo ele, o quadro “indica a situação grave que uma série de famílias enfrenta atualmente”. Esse percentual cai para 30% entre as classes A e B. Sendo que, entre os mais ricos, a maioria justifica a tomada de empréstimos como uma busca por investimentos no próprio negócio (46%).
O pesquisador alerta que, nesse cenário, é preciso ainda mais atenção com a concessão do empréstimo consignado para os beneficiários do Auxílio Brasil. Em muitos casos, eles estão contraindo dívidas com juros elevados para a subsistência. A possibilidade de crédito com o programa social faz parte de medida eleitoreira, anunciada às vésperas do pleito presidencial pelo governo Bolsonaro, liberando o beneficiário a comprometer até 40% de sua renda mensal com os empréstimos.
Brasil favorece o superendividamento
“O consignado do Auxílio Brasil só vai fazer com que as famílias se enrolem ainda mais”, adverte Prado. De forma geral, 42% confirmaram ter alguma dívida em atraso, segundo a pesquisa. Ao todo, foram consultadas 2.370 pessoas maiores de 18 anos, de todas as classes sociais, nacionalmente. A pesquisa foi feita entre 26 de julho a 9 de agosto de 2022. Para definir as classes D e E, o estudo considerou domicílios com renda familiar de até R$ 2 mil. Aqueles na faixa de R$ 2 mil até R$ 3 mil foram classificados como C2. Já as residências com renda de R$ 3 mil a R$ 6 mil são C1. E as classes AB são formadas por lares com renda acima de R$ 6 mil.
A pesquisa mostra ainda que cerca de 50% das famílias tomaram algum tipo de empréstimo no último ano. Nesse caso, a principal fonte para a busca dos recursos entre os mais pobres são familiares e amigos e, só depois, bancos digitais e tradicionais.
A situação reflete um cenário de crescimento econômico baixo, com inflação alta e um mercado de trabalho precarizado e informal que força com que o crédito seja cada vez mais utilizado como um complemento à renda da população com menor poder aquisitivo. É o que destaca o coordenador do Centro de Estudos em Microfinanças e Inclusão Financeira da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Lauro Gonzalez. “O crédito como complemento de renda é um caminho quase certo para o superendividamento”, garante o especialista.
Tirar de onde não tem
Até 50% dos entrevistados mais pobres, das classes D e E, confirmaram que tiveram de reduzir a compra de comida para pagar uma dívida. É comum também que as famílias busquem fazer horas extras, bicos e trabalhos temporários (56%) ou vender seus bens, como carros, móveis ou eletrodomésticos (28%), para quitar os débitos.
O levantamento também chama atenção para a falta de renda que impede a formação de poupança, principalmente entre os mais pobres. Nos últimos 12 meses, cerca de 50% da população teve gastos maiores do que a renda, sendo 37% nas classes A e B e 48% a 55% nas C1 e C2. Esse percentual chega a 60% nas D e E.
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FONTE: Rede Brasil Atual
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