A
disputa entre o capital e o trabalho é uma disputa
histórica que continua a atormentar a classe
trabalhadora, pois o capital sempre busca fragilizar
a organização dos trabalhadores para impor
“inovadoras” formas de gestão e pressionar os
governos para que sejam alteradas as leis que
garantam direitos trabalhistas e criem dificuldades
para a obtenção do lucro fácil.
Em plena era da informação e dos avanços
tecnológicos ainda encontramos milhões de
trabalhadores sendo explorados e assediados pela
“lógica” capitalista de acúmulo de riqueza, que se
materializa através de jornadas excessivas, metas
inatingíveis, baixos salários, retirada de
conquistas e benefícios, ataque aos Sindicatos e
divisão da classe trabalhadora; esta é a forma de
atuar do Capital quando se trata das relações
trabalhistas.
Na atualidade, o Capital adotou como estratégia
principal impor a toda sociedade uma nova forma de
enxergar o significado do trabalho, esta iniciativa
conta com a cumplicidade dos grandes meios de
comunicação para que a população aceite sem maiores
resistências a ideia de que o trabalho é uma
obrigação de todos e que deve estar subordinado aos
interesses do mercado e ser executado nas condições
determinadas pelos patrões. Não por acaso, o
movimento sindical defende a ideia do trabalho
decente, com bons salários, condições de trabalho
seguras e direitos respeitados.
Ainda estão vivas em nossas memórias as cenas de
reconhecimento da dedicação dos trabalhadores da
Saúde durante a pandemia da COVID. Aplausos, jornais
e TVS reconhecendo a essencialidade destes
profissionais; outras categorias de trabalhadores
essenciais também são lembradas quando são
interrompidos os fornecimentos de energia e água.
Infelizmente os trabalhadores envolvidos com a
prestação de serviços essenciais à vida não têm o
seu devido valor reconhecido pelas empresas, que
após a privatização simplesmente tratam os
“colaboradores” com discursos enaltecedores do
empreendedorismo e falsa promessas de progresso nas
carreiras. Tudo em nome da modernidade da gestão e
da ampliação dos lucros.
Este eterno dilema entre capital e trabalho segue
firme, em alguns momentos ocorrem avanços e
melhorias nas relações entre patrões e empregados e
em outros notamos a prevalência da lógica
neoliberal. Segundo a estudiosa Elisabeth Anderson
(autora do livro Sequestro: Como o neoliberalismo
virou a ética do trabalho contra os trabalhadores e
como os trabalhadores podem recuperá-la), o embate
se dá entre as versões progressistas e conservadoras
sobre a ética do trabalho.
A autora descreve a versão progressista ou
pró-trabalhador como sendo aquela que se alinha com
a remuneração digna, com o respeito e condições de
trabalho seguras; enquanto a versão conservadora da
ética do trabalho defende que o trabalhador tem o
dever de trabalhar incansavelmente, sem reclamar,
deve aceitar as perigosas condições de trabalho e se
contentar com salários miseráveis. Esta disputa,
desnecessária e injusta, somente provoca o aumento
das desigualdades sociais e a exploração de
trabalhadores essenciais ao bem-estar social
coletivo, afinal de contas sem energia elétrica,
assim como transportes, comunicações, água e
preservação ambiental o futuro da humanidade está
comprometido.
Não por acaso vivemos tempos de ataques da
extrema-direita aos movimentos sindical e social, em
especial aos Sindicatos, que defende e instrui o
Estado a reduzir a proteção social ofertada á
população sob o vergonhoso discurso do controle do
gasto público, que critica os investimentos em
educação, saúde e previdência social, mas, se cala
em relação aos subsídios destinados as grandes
empresas e ao agronegócio.
A sociedade precisa acabar de vez com a ideia de que
a riqueza é prova de virtude enquanto a pobreza é
sinônimo de vício e dependência da ajuda estatal,
seria mais humano e justo criar empregos dignos em
quantidade suficiente para que somente uma minoria
dependesse da proteção social do Estado. A melhor
forma de se contrapor a versão conservadora da ética
do trabalho é fortalecer o movimento sindical, pois
não podemos aceitar que o companheiro ao nosso lado
seja explorado e tratado como um simples número,
pois amanhã poderemos passar pela mesma situação.
A qualidade de vida não pode estar atrelada ao que
se consegue adquirir em um mundo orientado pelo
consumismo desenfreado, estimulado pelos donos do
Capital defensores da competitividade como
ferramenta de seleção natural de indivíduos de
primeira e segunda classe. A solidariedade e a
justiça econômica são fundamentais para resignificar
o trabalho e acabar com a exploração neoliberal.
A defesa de um Salário Mínimo digno é um passo
importante para aproximar o Sindicalismo e os
Movimentos Sociais para virarmos o jogo contra a
desigualdade e a pobreza. O que liberta não é o
trabalho, o que liberta é um trabalho decente, que
respeite direitos, garanta uma remuneração justa e
que não coloque em risco a saúde e a segurança da
classe operária.
Eduardo Annunciato – Chicão
Diretor de Educação da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI)
Presidente do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo (STIEESP) e da Federação Nacional dos Trabalhadores em Energia, Água e Meio Ambiente – FENATEMA
Vice-presidente da Força Sindical
Fonte: Rádio Peão Brasil - Do Blog de Notícias da CNTI
https://cnti.org.br/html/noticias.htm#O_trabalho_decente_liberta
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