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sexta-feira, 20 de março de 2020

Pacote mostra convergência entre Guedes e Bolsonaro em negar realidade


Pacote anuncia pouco dinheiro para o combate à doença e passa batido em relação às pessoas que estão fora do mercado de trabalho formal.

O presidente Jair Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes vêm se desentendendo há algum tempo, mas parece que, numa coisa, concordam. Ambos temem a paralisação da economia. O presidente porque teme que se a atividade econômica afundar, ele submerja junto, e o ministro Paulo Guedes porque os indícios de paralisação podem levá-lo a abrir mão de seu dogma fiscal. Essa convergência ficou clara com o pacote de segunda-feira.

O governo anunciou uma injeção de R$ 147 bilhões na economia para garantir capital de giro das empresas e tentar barrar a demissão de trabalhadores. Também foram postergadas por três meses as contribuições do FGTS e cortadas em 50% as contribuições ao Sistema S. Antecipou-se ainda para junho o pagamento do abono salarial que, normalmente, acontece no mês de aniversário do trabalhador, e, finalmente os valores não sacados do PIS/Pasep serão transferidos para o FGTS, podendo ser sacados. O décimo terceiro dos aposentados e pensionistas será antecipado e o governo vai propor ao Congresso o aumento da proporção do benefício previdenciário que pode vir a ser comprometido com o crédito consignado.

As medidas não parecem na direção errada, mas parecem insuficientes. O país já tem duas mortes pelo coronavírus e as previsões, se a média da mortalidade mundial se verificar no Brasil, é de centenas de milhares de mortes, mas o governo resiste a decretar calamidade pública. Seria uma alternativa, prevista na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), para que o Tesouro Nacional não cumpra a meta de superávit primário. Pelas declarações que deu ontem, ao anunciar o pacote, o ministro da Economia ainda parece ter uma aversão quase religiosa a aumentar a margem de gastos.

E não dá para saber como será possível fazer o combate efetivo a esta doença e amparar a população mais desprotegida sem mais gastos. Para o combate à doença propriamente dito, foi anunciada a redução da alíquota de imposto de importação para produtos hospitalares e a desoneração do IPI de produtos destinados ao tratamento do coronavírus. Parece pouco. Os Estados demandam mais recursos para aparelhar seus hospitais e suas UTIs, mas o aumento nos recursos do SUS hoje parece dependente do uso dos recursos do DPVAT, que é o seguro de acidentes de carro.

E, finalmente, se o pacote anuncia pouco dinheiro para o combate à doença, passa batido em relação às pessoas que estão fora do mercado de trabalho formal. Foram anunciados R$ 3 bilhões para tentar diminuir a fila do Bolsa Família, o equivalente a 2% do pacote. Para os trabalhadores “uberizados” que terão sua renda muito afetada pela redução da atividade econômica, nada se previu. Estão nessa condição diaristas, entregadores, ambulantes, guardadores de carros. São milhões de pessoas. Para o ministro da Economia, são invisíveis. O presidente da República os enxerga e teme sua reação política, mas sua maneira de salvaguardá-los tem sido negar a gravidade da conjuntura como se isso fosse capaz de manter sua renda.
 
(Valor Econômico)

Fonte: Portal Vermelho - Do Blog de Notícias da CNTI

http://cnti.org.br/html/noticias.htm#Pacote_mostra_converg%C3%AAncia_entre_Guedes_e_Bolsonaro_em_negar_realidade 


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