De acordo com integrante da equipe de transição do Trabalho, entre as prioridades do futuro governo Lula estão a negociação coletiva, o Bolsa Família, combater o endividamento das famílias e garantir o aumento real do salário mínimo
A equipe de transição do presidente eleito, Luiz
Inácio Lula da Silva (PT), na área do Trabalho
completou uma semana de trabalho com pelo menos três
prioridades definidas e a perspectiva de superar
algumas contradições entre as questões do mundo do
trabalho e sindicais impostas pela reforma
trabalhista. Entre elas, a de valorização da
negociação coletiva com fortalecimento dos
sindicatos. Apesar de a legislação, em vigor desde
2017, ter mantido a primazia da negociação, ao mesmo
tempo, ela enfraqueceu os atores sociais
responsáveis – as entidades dos trabalhadores.
Levantamento do Dieese, divulgado pela RBA em
agosto, apontou, por exemplo, uma queda do uso desse
instrumento nos últimos cinco anos. De 2011 a 2017,
o total de acordos e convenções fechadas oscilava de
46 mil a 49 mil. Mas, em 2021, o número não passou
de 35 mil, segundo o Sistema Mediador do Ministério
da Economia.
O consultor sindical Clemente Ganz Lúcio, integrante
da equipe de transição do governo Lula na área
trabalhista, garante, contudo, que o grupo tem uma
“perspectiva de valorização da negociação, de
fortalecimento do diálogo social entre trabalhadores
e empregadores por meio da negociação”, confirmou em
entrevista à edição desta quarta-feira (23) do
Jornal Brasil Atual.
Três medidas prioritárias
De acordo com Clemente, a proposta deverá ser fruto de uma negociação entre trabalhadores e empregadores, uma exigência do presidente eleito. “Para que eles apresentem ao futuro governo aquilo que é o entendimento de como se valoriza a negociação coletiva, como se fortalece os sindicatos, ampliar sua representação e dar capacidade para que empregadores e trabalhadores tratem dos conflitos inerentes da relação capital e trabalho”, detalhou.
O sociólogo, que é também assessor do Fórum das
Centrais Sindicais e ex-diretor técnico do Dieese,
comenta que, como medidas mais imediatas, para 1º de
janeiro, o grupo já indicou a necessidade da
manutenção do Auxílio Brasil, que voltará a ser
chamado de Bolsa Família, em R$ 600. A medida
econômica é considerada fundamental, segundo ele,
para proteger os trabalhadores e trabalhadoras mais
vulneráveis que estão no desemprego de longa
duração.
Além disso, uma segunda demanda emergencial é
enfrentar o endividamento das famílias. Pesquisa da
Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon),
publicada em fevereiro, mostrou que 69,7% das
famílias brasileiras estão endividadas. Sendo que
14,7% delas estão “muito endividadas”. “Estamos
também indicando ao grupo de Economia que tenhamos
propostas claras para o governo rapidamente atender
essa fragilidade econômica”, explicou Clemente.
O que pode ser feito
O grupo também indicou a importância do aumento real para o salário mínimo e de uma nova política de valorização do piso nacional. Clemente defende que essas três medidas “são muito importantes e impactam diretamente o cotidiano das pessoas”. Ele adverte, porém, que o trabalho da equipe de transição é indicar os problemas e apontar soluções de curto prazo, para os próximos dias e semanas. A ideia é viabilizar a tomada de decisões ao longo do mês de dezembro e nos primeiros dias de janeiro pelo grupo junto com o atual governo.
“Os grupos de transição não têm por objetivo
formular as políticas de governo, mas sim indicar
quais são as medidas necessárias. Evidentemente
olhando a plataforma apresentada pelo candidato Lula
como plataforma de governo.” Por causa disso,
mudanças em relação a marcos regulatórios, com
outros pontos da “reforma” trabalhista, irão exigir
diálogo com o Congresso Nacional.
“Muitas dessas medidas precisarão de alterações
legislativas. Portanto, tem um encaminhamento a ser
feito junto aos parlamentares. E há também um
entendimento que precisa ser realizado entre
trabalhadores e empregadores porque isso se refere
às relações de trabalho concretas, diferente do
atual e do governo anterior (de Michel Temer) que
fizeram mudanças sem diálogo social, impondo
especialmente aos trabalhadores mudanças que foram
perversas. (…) A ideia é normatizar as relações de
trabalho daqui para frente”, diz Clemente.
Diálogo com o atual governo
A equipe trabalha para concluir até 11 de dezembro o diagnóstico completo. A perspectiva é positiva também do ponto de vista do diálogo com o governo derrotado de Jair Bolsonaro (PL).
Ela se reuniu ontem (22), pela primeira vez, com o
ministro do Trabalho e Previdência, José Carlos
Oliveira, e sua equipe. A pedido do vice-presidente
eleito, Geraldo Alckmin (PSB), que coordena os
trabalhos de transição, a pasta já encaminhou
relatório com quase 800 páginas sobre programas,
projetos e contratos atuais que serão analisados
pelo grupo para indicar à futura equipe da área a
situação real em que se encontra o mundo do trabalho
no Brasil. “Vamos fazer um processo tranquilo,
transparente e de informação”, conclui Clemente.
Fonte: Rede Brasil Atual - Do Blog de Noticias da CNTI
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