Governo se desdobra para encontrar recursos para programa que nem nasceu e já tem prazo para terminar. Enquanto isso, alta dos juros deve consumir mais de meio trilhão
O diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Junior,
criticou as indefinições a respeito do Auxílio
Brasil. O novo programa, substituto do Bolsa
Família, ainda não tem previsão orçamentária
garantida. A base do governo Bolsonaro condiciona os
recursos do programa à aprovação da chamada PEC dos
Precatórios, prevista para ser votada nesta
quarta-feira (3) na Câmara dos Deputados.
“Não só não há definição, como há um desmonte da
estrutura tão bem-sucedida do Bolsa Família. É
lamentável”, disse Fausto, em entrevista a Glauco
Faria, para o Jornal Brasil Atual. Para ele,
trata-se de uma proposta “eleitoreira”, que revela o
desprezo do atual governo com o social.
Fausto anota que o Auxílio Brasil está previsto para
funcionar apenas até o final do ano que vem. “Após o
ano eleitoral, a depender do que possa acontecer,
simplesmente essas pessoas ficarão com mais
dificuldades ainda”, destacou.
Além disso, a cobertura do novo programa também é
insuficiente. No mês passado, foram 39 milhões de
famílias que receberam a última parcela do auxílio
emergencial, enquanto o Auxílio Brasil deve atender
a apenas 17 milhões de famílias.
“No meio de tudo isso, ainda temos uma inflação de
dois dígitos, puxada principalmente pelos
combustíveis e energia elétrica, itens que são
insubstituíveis. Quando a gente olha para esse
cenário, vemos o quão complicado é um governo que
simplesmente colocada de lado a questão social. Na
pior das hipóteses, trata essa questão a partir de
uma visão eleitoreira”, afirmou Fausto.
‘Bolsa banqueiro’
Por outro lado, ele relacionou as incertezas que permeiam a implementação do novo programa às convicções que vêm embalando a escalada da taxa básica de juros. Na última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevou a Selic em 1,50 ponto percentual, fixada em 7,75% ao ano. É a maior taxa desde setembro de 2017. Segundo cálculos do próprio BC, para cada aumento de um ponto percentual nos juros, o custo da dívida pública sobe R$ 31,8 bilhões ao ano.
Nesse sentido, o diretor do Dieese destaca que o
custo com a elevação da Selic supera, e muito, o
montante que o governo espera gastar no Auxílio
Brasil. Para 2022, o novo programa deve custar R$
84,7 bilhões, segundo o ministério da Cidadania. No
entanto, somente neste ano, a Selic subiu mais de 5
pontos percentuais, acumulando gastos que superam R$
500 bilhões.
“Ou seja, de um lado, estamos vendo recursos para os
pobres sendo retirados e direitos sociais sendo
desconstruídos. De outro, mais recursos saindo dos
nossos impostos para o setor financeiro”, disse
Fausto. Para ele, trata-se de uma opção deliberada
pelo agravamento das desigualdades sociais do país.
Fonte: Rede Brasil Atual - Do Blog de Notícias da CNTI
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