Vice-presidente do TST, Luiz Philippe Vieira de Mello Filho,
critica MPs que atendem patrões sem considerar proteção dos cidadão em
meio à pandemia
Escrito por: Vitor Nuzzi, da RBA
Reprodução
A
pandemia deve demonstrar que é necessário retomar a ideia de proteção
social em vez de flexibilizar ainda mais, como já defendem empresários e
governo. A observação é do vice-presidente do Tribunal Superior do
Trabalho (TST), Luiz Philippe Vieira de Mello Filho. “Estamos caminhando
para o precipício, para uma situação social conflituosa absolutamente
dramática”, afirmou, ao participar de debate virtual promovido ontem
(27) pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp), respondendo perguntas de professores da instituição e de
alguns ouvintes.
Ao citar a “reforma” trabalhista implementada em
2017, o magistrado observa que havia o discurso de que as medidas
permitiriam a criação de milhões de empregos. “Qual foi a resposta
empírica? O que foi prometido não foi entregue.”
Por isso, ele
rejeita a insistência no argumento de que é preciso reduzir direitos
para garantir empregos. “Não bastou a mentira da reforma? Agora vem
outra?”, reage. Segundo Vieira Filho, o mercado já demonstrou que não dá
conta da crise. Mais uma vez, é necessária a presença ativa do Estado.
Ideário em xeque
“Esse
ideário neoliberal está ficando sem suporte. A pandemia colocou em
xeque esse ideário, bem como a ideia da globalização”, diz o
vice-presidente do TST. “Isso tudo está mostrando a fragilização desse
discurso.” Durante o debate, ele usou algumas vezes a expressão zombie
ideas (“ideias zumbi”), bastante citadas por Paul Krugman, sobre crenças
que deveriam ter sido eliminadas pela evidências, mas seguem devorando
cérebros, como já definiu o economista norte-americano.
O ministro
cita Krugman e seu “choque violentíssimo” com o ideário neoliberal,
“inclusive das formas de apropriação do Estado pelo capital”. E
acrescenta que o chamado mercado se mostrou incapaz de solucionar as
questões apresentadas pelo pandemia e a consequente crise econômica. “Um
descompasso completo”, afirma.
Ele também critica as recentes
medidas provisórias de flexibilização de direitos, como as MP 927 e 936
(que deve ser votada hoje na Câmara). Foram editadas de forma
unilateral, lembra, sem participação dos sindicatos, que também são
protagonistas do capitalismo. E desrespeitam a premissa da Organização
Internacional do Trabalho sobre diálogo social. “Então, não é só uma
ideia jurídica da OIT, mas uma ideia econômica também”, diz Vieira
Filho.
As MPs, acrescenta, consideraram apenas um lado, o do
empregador. Ignoram inclusive a proteção necessária para micro, pequenas
e médias empresas em meio a uma pandemia, que concentram muita mão de
obra. “Elas são fundamentais na economia. Precisamos proteger os
vulneráveis, ou vamos criar um monopólio. Estamos acentuando o grau de
concentração em todos os níveis no país, e isso é muito perigoso.”
De invisíveis a essenciais
Ele
afirma que “quem apareceu para manter a sociedade viva”, neste momento,
foram justamente os trabalhadores, em particular os da saúde, do
comércio e os que trabalham por meio de aplicativos. “De invisíveis,
transformaram-se em essenciais.”
Assim, as medidas, em vez de
serem flexibilizadoras em plena pandemia, precisam assegurar proteção.
“Estamos trabalhando com ideias mortas, superadas no mundo. Nós só vamos
sair desse quadro se houver mais proteção social”, afirma o ministro.
Para ele, os sindicatos também precisam se “reconstruir”, pensar em
novas formas de organização e de comunicação, incluindo as novas
modalidades de trabalhadores, como as da plataformas virtuais.
O
ministro considera o teletrabalho, ou home office, uma tendência
irremediável, que não se pode mais descartar. “Mas isso não quer dizer
que signifique um trabalho em que haja uma jornada ilimitada”, ponderou.
“Em vários países da Europa, essa jornada é regulamentada. É preciso
uma nova regulamentação, porque esse é um veículo que veio e vai ficar
definitivamente.”
Assim como a questão das plataformas, cuja
relação tem sido controversa na Justiça do Trabalho. “Quem precifica é
agente econômico, é aquele que efetivamente coordenada a relação de
trabalho”, diz o ministro. Ele defende ainda uma “discussão séria” sobre
redução da jornada de trabalho, para permitir maior absorção de mão de
obra. Mesmo em um “processo crescente de desregulamentação e de
desproteção social”, o vice-presidente do TST espera que a pandemia
ajude a provocar “um novo movimento civilizatório”, considerando o tripé
economia, meio ambiente e questão social.
FONTE: Página da CUT (Central Única dos Trabalhadores)
https://www.cut.org.br/noticias/vice-do-tst-lembra-mentiras-da-reforma-trabalhista-e-critica-reducao-de-direitos-35c0
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