Depois da promulgação de um novo código mineral outro ataque à mineração: suspensão do processo criminoso contra a Samarco
Em junho de 2013, a proposta de um novo marco regulatório para o
setor da mineração no Brasil foi encaminhada ao Congresso Nacional pelo
Governo Federal. A proposta principal do Novo Código da Mineração tinha
por objetivo modernizar os marcos legais que datavam da ditadura militar
(1964-1985). A tal modernização, no entanto, possuía três pontos
principais: criação da Agência Nacional de Mineração, uma autarquia nos
moldes das agências reguladoras surgidas na época das privatizações
promovidas pelo governo neoliberal de FHC (1995-2002); a redefinição na
cobrança das taxas de royalties minerais, ou seja, ampliação de
contribuição oriunda da Compensação Financeira pela Exploração de
Recursos Minerais (CFEM); e regulamentação da exploração mineral o que
compreende questões como pesquisa, concessão de lavra, uso de direitos
de minérios, entre outras pertinentes à produção mineral.
Na proposta do novo Código da Mineração, mesma visão economicista da
ditadura continuou a prevalecer, considerando apenas a intensificação da
exploração mineral e a possibilidade de aumento na arrecadação fiscal.
Os impactos causados por conta desta atividade econômica, como os
efeitos ambientais, implicações sociais nas comunidades afetadas e os
temas pertinentes aos direitos dos trabalhadores, não foram contemplados
e, assim, diferentes organizações sociais, ambientais e sindicais
intensificaram a luta para incorporar estes temas tão prioritários e
negligenciados pelo estado e pelo capital.
A tentativa de um debate amplo com a sociedade e a promoção de
diversas audiências públicas persistiu até dias recentes, quando foram
promulgadas três medidas provisórias com a alteração de 23 artigos do
código de mineração. Após o golpe que destituiu a presidenta Dilma
Rousseff as reformas e projetos têm andado a passos largos no Congresso e
não foi diferente com o tema mineral.
A produção mineral brasileira tem apresentado queda desde o ano de
2011 quando alcançou a cifra recorde de 53 bilhões de dólares. Este
arrefecimento deve-se, especialmente, a queda dos preços das commodities
minerais no mercado internacional ocasionada por uma maior oferta dos
produtos e menor demanda chinesa. De qualquer forma, em 2016 a produção
ultrapassou 24 bilhões de dólares e continua sendo bastante expressiva
na pauta de exportações. Por sua vez, a arrecadação fiscal totalizou em
2016 quase R$ 1,8 bilhão que impacta a receita da União e,
especialmente, dos estados de Minas Gerais e Pará (maiores detentores de
reservas minerais).
O Brasil é o sexto maior produtor de minérios do mundo, produz 70
derivados minerais: 21 metais, 45 minerais industriais e 4 combustíveis.
É o segundo maior produtor de minério de ferro e possui as maiores
reservas de minerais estratégicos como nióbio (mineral utilizado na
produção de ligas de aço de alta resistência com aplicação na construção
civil, indústria mecânica, aeroespacial, naval, automobilística e
nuclear) e tantalita (minério que oferece bastante resistência ao calor
com aplicação na indústria eletrônica).
Desta forma, é inegável o potencial mineral brasileiro. Contudo, a quem serve a produção mineral brasileira?
Esta pergunta tem sido respondida desde a privatização da Companhia
Vale do Rio Doce, em 1997. Os minerais brasileiros têm servido como
fonte de lucro do grande capital, não há um projeto de desenvolvimento
que atinja cadeia produtiva mais ampla e que contemple da extração até a
siderurgia. O Brasil continua condenado a exportador de produto
primário e importador de manufaturados. Se por um lado, os lucros cada
vez mais são remetidos para fora do país, o ônus tem se instaurado e
deixado graves consequências para a sociedade.
O triste exemplo foi o maior crime ambiental de toda a história
brasileira ocorrido no distrito de Bento Gonçalves em Mariana (MG) que
deixou 19 mortos e incalculáveis perdas sociais, ambientais e
econômicas. O crime nada mais foi que a "Crônica de uma morte
anunciada", ou seja, a exploração cada vez mais predatória foi a causa
de toda esta grande tragédia. A impunidade deste crime perdura, tanto a
Vale quanto a BHP Billiton, ambas controladoras da Samarco, não foram
indiciadas e recentemente a justiça suspendeu o processo criminal que
envolve as empresas e seus executivos. Não podemos esquecer Mariana!
O Programa de Revitalização da Indústria Mineral Brasileira pode e
deve agravar ainda mais a lógica mercantilista já existente. Não se deve
jamais esquecer que os bens minerais são recursos finitos, a riqueza
gerada através da exploração necessita ser socialmente e ambientalmente
responsável, servir a população brasileira com a geração de
desenvolvimento econômico. Especificamente, tratando do universo dos
trabalhadores tal programa aliado a reforma trabalhista também
sancionada pelo governo Temer, pode agravar ainda mais condições já
precarizadas de trabalho. Apesar do Brasil ser signatário da Convenção
176 da OIT que dispõe sobre segurança e saúde nas minas, o setor de
minérios é um dos que mais acidenta e mata trabalhadores no país, possui
grande informalidade e condições degradantes de trabalho. Avanços são
necessários e, portanto, a denúncia do golpe deve ser constante, a
organização sindical e social não deve esmorecer, é necessário luta e
união frente a estes novos e cruéis desafios.
Escrito por:
Lucineide Varjão Presidenta da CNQ-CUT e co-presidenta da IndustriAll Global Union - América Latina e Caribe
Publicado em: 16/08/2017 • Última modificação: 16/08/2017 - 17:58
Do site da CUT - https://cut.org.br/artigos/revitalizacao-da-industria-mineral-no-brasil-para-quem-c465/
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