José Reginaldo, diretor de formação sindical da CNTI e NCST - Foto: Câmara dos Deputados
José Reginaldo, diretor de formação sindical da CNTI
(Confederação Nacional dos Trabalhadores na
Indústria) e da NCST (Nova Central Sindical de
Trabalhadores), em entrevista exclusiva ao HP,
avaliou que os debates no Seminário pela
“Reindustrialização do Brasil” amadureceram a
consciência da “necessidade urgente” do renascimento
da indústria nacional.
Declarou esperar que a proposta de um “novo
consenso” feita pelo representante da CNI
(Confederação Nacional da Indústria), Rafael
Lucchesi, floresça e passe a ser “a prioridade no
entendimento entre empresários e trabalhadores”,
rompendo assim “os laços de subordinação aos
especuladores internacionais”. Reginaldo disse,
ainda, que “a nova indústria nacional deverá dar à
luz relações de trabalho humanizadas”. O seminário
foi realizado em 11 de junho, na sede da CTB.
Leia, abaixo, a íntegra da entrevista:
HP – O sr. está de acordo com a proposta do
representante da CNI de “construirmos” um novo
consenso?
JR – Ouvimos neste seminário um dos
principais quadros da CNI. Destaco na sua avaliação
que as orientações do chamado “Consenso de
Washington” prejudicaram tremendamente a atividade
industrial em nosso país. Sr. Lucchesi propõe a
construção de um novo consenso. Não mais entre
banqueiros e megacorporações multinacionais como,
penso eu, foi o “Consenso de Washington”. Entendemos
que o proposto foi um pacto entre lideranças
sindicais e setores empresariais filiados à CNI,
para lutar contra a especulação financeira. Os dados
aqui trazidos por ele sobre o desempenho da
atividade industrial são aterradores. O Brasil, que
recebeu, na década de 70, técnicos do mundo inteiro
para estudar nossa experiência, que já teve o 4º ou
o 5º parque industrial do mundo, hoje tem o 10º, ou
o PIB que já foi maior que o da China e da Coreia
somados, há 40 anos se arrasta a menos de 2% ao ano.
HP – Faz 40 anos que o Brasil está estagnado.
A responsabilidade principal não é dos próprios
empresários?
JR – O neoliberalismo, envernizado em 1979,
foi o ópio das elites nacionais que pautou o
retrocesso colossal da economia brasileira com base
no tripé macroeconômico – valorizaram
artificialmente a moeda, encareceram nossos
produtos, subsidiaram as importações, especularam
com os juros e adquiriram, fecharam ou transformaram
as nossas indústrias em montadoras. A indústria
nacional foi arrasada. O seminário explicitou a
consciência da possibilidade de unirmos forças:
governo, trabalhador e empresário, numa grande
frente para reindustrializarmos o país, construirmos
uma nova indústria.
HP – Quais as principais reivindicações dos
trabalhadores neste pacto?
JR – É uma luta comum contra a especulação, o
rentismo e os monopólios estrangeiros. Não estamos
aqui numa negociação coletiva. Se foi ruim para a
indústria nacional, foi desastroso para o
trabalhador, pois, consequentemente, a qualidade da
proteção social do trabalho foi bombardeada por
todos os ângulos. A precarização do trabalho virou
um mal que contagiou todo mercado de trabalho, seja
através da informalidade, assumida ou mascarada, da
terceirização indiscriminada, do trabalho
intermitente. Isso tudo, acrescido do sufocamento
financeiro das entidades sindicais e dos obstáculos
ao acesso à justiça do trabalho.
HP – Mas a indústria não pode crescer voltada
para o mercado externo, para as exportações?
JR – Se pudesse, a velha república estaria aí
até hoje. Mercado interno é soberania e
desenvolvimento. A industrialização no Brasil foi
criada com a rede de proteção social. Da mesma
forma, foram destruídas conjuntamente. A construção
de um novo consenso ou de um pacto entre a indústria
e o trabalhador também requer uma abordagem global.
Não estamos colocando uma coisa dependendo da outra,
pois achamos que tanto uma como outra beneficiam a
ambos. É o círculo virtuoso da economia, onde o
aumento da demanda gera produção, que gera mais
empregos e mais produção. Trata-se, no entanto, de
reconquistar a dignidade do trabalhador
industriário. Ao fazer isto, o trabalhador se torna
a força motriz efetiva para que esse pacto tenha
sucesso.
HP – Quer dizer que não há diferenças entre a
CNTI e as posições do Sr. Lucchesi, da CNI?
JR – Na luta pelo desenvolvimento nacional,
não. Por isso, o pacto é fundamental porque é
fundamental unirmos forças para restabelecermos o
papel prioritário da produção, que confere qualidade
e técnica para agregar valor no produto produzido.
Então, a indústria tem essa caracterização: quando
você agrega técnica e qualidade, você está falando
de uma indústria humanizada, uma indústria cuja
dignidade é fator preponderante, presente na
sociedade e contribuindo para a soberania do país.
Devemos caminhar para ter, por parte da CNI,
disposição de construir um novo consenso que promova
não só a reindustrialização do país, mas uma nova
indústria que dê dignidade no processo produtivo.
CARLOS PEREIRA
Fonte: Hora do Povo
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