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segunda-feira, 8 de julho de 2024

CNTI: “O neoliberalismo arrasa a indústria nacional e desumaniza o trabalho”

 

 

José Reginaldo, diretor de formação sindical da CNTI e NCST - Foto: Câmara dos Deputados


José Reginaldo, diretor de formação sindical da CNTI (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria) e da NCST (Nova Central Sindical de Trabalhadores), em entrevista exclusiva ao HP, avaliou que os debates no Seminário pela “Reindustrialização do Brasil” amadureceram a consciência da “necessidade urgente” do renascimento da indústria nacional.


Declarou esperar que a proposta de um “novo consenso” feita pelo representante da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Rafael Lucchesi, floresça e passe a ser “a prioridade no entendimento entre empresários e trabalhadores”, rompendo assim “os laços de subordinação aos especuladores internacionais”. Reginaldo disse, ainda, que “a nova indústria nacional deverá dar à luz relações de trabalho humanizadas”. O seminário foi realizado em 11 de junho, na sede da CTB.


Leia, abaixo, a íntegra da entrevista:


HP – O sr. está de acordo com a proposta do representante da CNI de “construirmos” um novo consenso?


JR – Ouvimos neste seminário um dos principais quadros da CNI. Destaco na sua avaliação que as orientações do chamado “Consenso de Washington” prejudicaram tremendamente a atividade industrial em nosso país. Sr. Lucchesi propõe a construção de um novo consenso. Não mais entre banqueiros e megacorporações multinacionais como, penso eu, foi o “Consenso de Washington”. Entendemos que o proposto foi um pacto entre lideranças sindicais e setores empresariais filiados à CNI, para lutar contra a especulação financeira. Os dados aqui trazidos por ele sobre o desempenho da atividade industrial são aterradores. O Brasil, que recebeu, na década de 70, técnicos do mundo inteiro para estudar nossa experiência, que já teve o 4º ou o 5º parque industrial do mundo, hoje tem o 10º, ou o PIB que já foi maior que o da China e da Coreia somados, há 40 anos se arrasta a menos de 2% ao ano.


HP – Faz 40 anos que o Brasil está estagnado. A responsabilidade principal não é dos próprios empresários?


JR – O neoliberalismo, envernizado em 1979, foi o ópio das elites nacionais que pautou o retrocesso colossal da economia brasileira com base no tripé macroeconômico – valorizaram artificialmente a moeda, encareceram nossos produtos, subsidiaram as importações, especularam com os juros e adquiriram, fecharam ou transformaram as nossas indústrias em montadoras. A indústria nacional foi arrasada. O seminário explicitou a consciência da possibilidade de unirmos forças: governo, trabalhador e empresário, numa grande frente para reindustrializarmos o país, construirmos uma nova indústria.


HP – Quais as principais reivindicações dos trabalhadores neste pacto?


JR – É uma luta comum contra a especulação, o rentismo e os monopólios estrangeiros. Não estamos aqui numa negociação coletiva. Se foi ruim para a indústria nacional, foi desastroso para o trabalhador, pois, consequentemente, a qualidade da proteção social do trabalho foi bombardeada por todos os ângulos. A precarização do trabalho virou um mal que contagiou todo mercado de trabalho, seja através da informalidade, assumida ou mascarada, da terceirização indiscriminada, do trabalho intermitente. Isso tudo, acrescido do sufocamento financeiro das entidades sindicais e dos obstáculos ao acesso à justiça do trabalho.


HP – Mas a indústria não pode crescer voltada para o mercado externo, para as exportações?


JR – Se pudesse, a velha república estaria aí até hoje. Mercado interno é soberania e desenvolvimento. A industrialização no Brasil foi criada com a rede de proteção social. Da mesma forma, foram destruídas conjuntamente. A construção de um novo consenso ou de um pacto entre a indústria e o trabalhador também requer uma abordagem global. Não estamos colocando uma coisa dependendo da outra, pois achamos que tanto uma como outra beneficiam a ambos. É o círculo virtuoso da economia, onde o aumento da demanda gera produção, que gera mais empregos e mais produção. Trata-se, no entanto, de reconquistar a dignidade do trabalhador industriário. Ao fazer isto, o trabalhador se torna a força motriz efetiva para que esse pacto tenha sucesso.


HP – Quer dizer que não há diferenças entre a CNTI e as posições do Sr. Lucchesi, da CNI?


JR – Na luta pelo desenvolvimento nacional, não. Por isso, o pacto é fundamental porque é fundamental unirmos forças para restabelecermos o papel prioritário da produção, que confere qualidade e técnica para agregar valor no produto produzido. Então, a indústria tem essa caracterização: quando você agrega técnica e qualidade, você está falando de uma indústria humanizada, uma indústria cuja dignidade é fator preponderante, presente na sociedade e contribuindo para a soberania do país. Devemos caminhar para ter, por parte da CNI, disposição de construir um novo consenso que promova não só a reindustrialização do país, mas uma nova indústria que dê dignidade no processo produtivo.

 

CARLOS PEREIRA 

 

Fonte: Hora do Povo

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