Juízes usam jurisprudência para evitar os
retrocessos da reforma, que teve caráter
ultraliberal e antitrabalhador
Em vigor há seis anos, a reforma trabalhista do
governo Michel Temer (MDB) atacou a Justiça do
Trabalho e o movimento sindical, mas não conseguiu
calar os trabalhadores. Levantamento do Estadão
aponta que a maioria das reclamações encaminhadas ao
STF (Supremo Tribunal Federal) são ligadas ao
direito trabalhista.
O fenômeno ocorre porque juízes usam jurisprudência
para evitar os retrocessos da reforma, que teve
caráter ultraliberal e antitrabalhador. Além disso,
o próprio STF já revisou ou regulamentou diversos
pontos da legislação atual, válida desde novembro de
2017. Ainda assim, os trabalhadores seguem na
condição de “elo mais fraco”.
Só neste ano, das 6.148 ações de reclamação
recebidas no Supremo, 3.334 são trabalhistas – o
equivalente a 54%. Segundo o Estadão, o índice está
crescendo – era de 41% em 2018. Por regra, é o setor
patronal que mais recorre ao STF, a fim de impedir
conquistas dos trabalhadores em outras instâncias da
Justiça, inclusive no TST (Tribunal Superior do
Trabalho).
Uma dessas reclamações teve como base o vínculo
empregatício de um trabalhador – alvo central da
reforma trabalhista, bem como da lei de
terceirização irrestrita. Contratado sob o regime de
contrato de pessoa jurídica (PJ), o funcionário foi
à Justiça para mostrar que, na prática, atuava não
como um prestador de serviço terceirizado – mas,
sim, como um trabalhador celetista, com carteira
assinada, o que envolve mais deveres e mais
direitos.
Na primeira instância, o Tribunal Regional do
Trabalho da 1ª Região (TRT-1) reconheceu vínculo
empregatício do ex-funcionário e ainda condenou a “pejotização”.
Mas a Segunda Turma do STF reverteu a decisão e
criticou a atuação TRT, mais sensível aos
trabalhadores. O ministro Gilmar Mendes, do STF,
defendeu a reforma trabalhista e criticou a atuação
dos magistrados do Trabalho.
A posição do decano do Supremo não leva em conta,
porém, a insegurança jurídica que a reforma
trabalhista impôs. A prevalência do negociado sobre
o legislado, por exemplo, passou a ser usada como
pretexto para práticas ilegais e abusivas dos
empregadores.
Segundo a Anamatra (Associação Nacional dos
Magistrados da Justiça do Trabalho), a reforma e a
lei de terceirização abriram caminho para diversas
irregularidades, como a chamada “pejotização
fraudulenta”, o que exige mediação judicial.
“É isso que a Justiça do Trabalho avalia no caso
concreto e dentro da sua competência
constitucional”, diz Luciana Conforti, presidenta da
Anamatra. “Não se trata de escolha política (da
Justiça do Trabalho), mas, sim, de respeito à
legislação infraconstitucional e às disposições
constitucionais.”
Fonte: Portal Vermelho - Do Blog de Noticias da CNTI - https://cnti.org.br
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