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quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Pochmann: em produção industrial e relações de trabalho, Brasil precisa entrar no século 21

Há países que produzem, comercializam e exportam bens e serviços digitais. Outros, como o Brasil, não conseguem produzir e se tornam importadores

Governo do Espírito Santo/Agência Brasil
industria-automação

São Paulo – Os novos parâmetros da digitalização e do trabalho cada vez mais conectado à internet e ao uso de aplicativos exigem a regulamentação de muitas atividades. Sem isso, serão aprofundados ainda mais os efeitos da desregulamentação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) pela reforma trabalhista dos últimos anos, que aumentou a precariedade.

Para o economista Marcio Pochmann, presidente do Instituo Lula, há muito o que fazer sobre o tema. Com inúmeras funções cada vez mais digitalizadas, o trabalhador de certa maneira fica “plugado” no trabalho durante mais tempo do que deveria. Em muitos casos não há a jornada de seis, sete ou oito horas. “Estudos mostram que o trabalho das pessoas tem uma jornada muito extensa. A desigualdade se aprofunda pela má repartição dos ganhos do trabalho”, diz Pochmann.

Nesse sentido, segundo ele, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem destacado que é preciso construir novos parâmetros das relações de trabalho com diálogo em discussões tripartites, reunindo trabalhadores, empregadores e Estado.

Lula com empresários da construção: ‘Setor será um motor do crescimento’

Pochmann nota que há uma divisão do trabalho digital no mundo atual, e é importante partir dessa perspectiva: há países que produzem, comercializam e exportam bens e serviços digitais. Outros, como o Brasil, não têm tecnologia suficiente para produzir isso e se tornam importadores.

Além disso, com a automação, o país precisa gerar empregos qualificados, e não mais postos de trabalho muito simples, com baixa remuneração, que não dão perspectivas aos jovens recém-saídos das universidades.

Reindustrialização para o século 21

“O Brasil é o quarto maior mercado consumidor desses bens e serviços digitais. Isso precisaria ser enfrentado, mas somos dependentes da importação”, diz. Em sua opinião, o que está em questão é o que ele chama de “soberania digital” e a necessidade de se pensar na reindustrialização. “Não uma volta ao passado, mas conectada com as perspectivas do presente e futuro”, afirma o economista.

Igualmente, Giorgio Romano Schutte, professor de Relações Internacionais e Economia da Universidade Federal do ABC (UFABC), considera central a discussão sobre a reindustrialização do país, “mas não sob parâmetros antigos, e sim novos”.

“O mundo está investindo muito. A Europa está falando em política industrial depois de décadas de neoliberalismo, quando era ‘proibido’ falar em reindustrialização”, diz Giorgio.  “Os Estados Unidos estão colocando trilhões de dólares para chips e questões energéticas etc. A China também”, continua o professor da UFABC.

“Escassez” na regulação pública

Do  ponto de vista do trabalho, na opinião de Pochmann, o Brasil vive uma espécie de “escassez” na regulação pública que permitiria identificar o trabalho nesse novo mundo, “dar pertencimento” e oferecer condições para proteger os direitos. Diante da nova realidade virtual, é preciso definir situações concretas.

“Quantas horas e o que significa trabalhar em casa? Qual a remuneração?”, exemplifica o economista do Instituto Lula. Ele lembra que a entrada do 5G no país “abre enormes possibilidades” de trabalho e conexão. Mas o Brasil precisa entrar no século 21.

Com informações do Jornal PT Brasil

 

FONTE: AGÊNCIA SINDICAL 

 

https://www.redebrasilatual.com.br/economia/2022/08/pochmann-questoes-trabalhistas-producao-industrial-brasil-seculo-21/

terça-feira, 30 de agosto de 2022

Conhecer os parlamentares para votar bem

  Murilo Pinheiro

Para além das promessas da propaganda eleitoral, vale a pena conferir como foi o desempenho dos parlamentares que buscam um novo mandato; ferramenta lançada pelo Diap ajuda a saber quem foi quem no Congresso.

A pouco mais de um mês das eleições de outubro, os cidadãos se veem com a missão de escolher aqueles vão governar e legislar a partir do próximo ano.

Como se sabe, essa é tarefa de enorme responsabilidade e não deve ser realizada com displicência ou leviandade, pois estão em jogo os rumos do País e do Estado e, em última instância, as decisões que regerão a vida de cada um de nós.

Embora nessa disputa os cargos executivos sempre mereçam mais destaque, é fundamental a seleção consciente e informada de deputados e senadores, pois o papel do Legislativo é absolutamente relevante; a maioria das questões mais importantes, com impacto direto sobre a população, depende do voto do Parlamento.

Muita atenção aos vão representar o povo

Assim, há que se dar muita atenção à escolha dos que vão representar o povo para que, em caso de vitória, atuem realmente com esse objetivo.

Tendo em vista o grande número de candidatos, certamente cada eleitor pode ter uma boa opção de voto, podendo descartar os que não apresentam condições de exercer um mandato adequadamente, carecem de seriedade e compromisso com o interesse público.

Para além da profusão de promessas e apresentação de currículos brilhantes nas propagandas eleitorais, uma boa pista a se seguir, no caso dos parlamentares que concorrem a uma nova cadeira, é verificar como foi sua atuação no decorrer do mandato que termina em 2022.

Considerando que 87% dos atuais deputados e 48% dos senadores buscam se reeleger, já se tem um significativo contingente cujo desempenho pode ser aferido.

E, graças a uma excelente iniciativa do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), isso pode ser feito de maneira simples, rápida e objetiva.

Quem foi Quem no Congresso Nacional

A instituição lançou a plataforma “Quem foi quem no Congresso Nacional”, que traz o levantamento de como votaram deputados e senadores nas questões de interesse do trabalhador, ou seja, da maioria do povo brasileiro, e naquelas consideradas mais relevantes para o conjunto da sociedade.

Nesse critério, entram, por exemplo, a Medida Provisória que flexibilizava regras, retirando direitos trabalhistas, e a que propunha a privatização da Eletrobras.

Além de permitir a pesquisa sobre a posição de cada parlamentar por matéria selecionada, a ferramenta também fornece estatísticas com o perfil geral dos deputados e senadores, classificando-os contra ou a favor dos interesses dos trabalhadores, e informa a base eleitoral de cada um.

Vale a pena conferir e checar o desempenho dos parlamentares, avaliando se merecem um novo mandato. Vamos exercer o nosso direito de voto de forma consciente e exercitar bem a nossa cidadania.

Clique aqui e leia mais artigos de Murilo Pinheiro.

Acesse – www.seesp.org.br

 

FONTE: AGÊNCIA SINDICAL 


https://www.agenciasindical.com.br/conhecer-os-parlamentares-para-votar-bem/

Desregulamentação do trabalho contribui com aumento de acidentes

Presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias cobra mudanças na legislação para melhorar segurança e evitar lesões


A Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) realizou na quinta-feira (25) audiência pública para debater a situação dos trabalhadores lesionados no Brasil. O evento reuniu especialistas e trabalhadores que sofreram lesões, que sugeriram mudanças na legislação para assegurar direitos aos empregados portadores de lesão.


Autor de requerimento para realização do debate, o presidente da CDHM, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), culpou a desregulação do mercado de trabalho nos últimos anos pelo aumento de acidentes e doenças ocupacionais.


“A precarização das relações de trabalho no último período agravou enormemente as lesões. Por isso é importante que a Câmara adote medidas na legislação que sejam protetivas do ambiente do trabalho”, afirmou o parlamentar.


Segundo levantamento do Observatório de Saúde e Segurança do Trabalho, ligado ao Ministério Público do Trabalho (MPT), de 2012 a 2021 foram registradas 23 mil mortes no mercado de trabalho formal no Brasil. Em 2021, ocorreram 578 mil acidentes e 2.487 mortes associadas ao trabalho – um aumento de 30% em relação a 2020.


“Os dados são escandalosos. É preciso romper com a precarização do trabalho, com a insegurança do trabalho”, frisou Orlando, reiterando a necessidade de o tema ser tratado em lei.


Uma das sugestões dos debatedores é para prever a estabilidade no emprego, até a aposentadoria, nos casos de lesão permanente adquirida no trabalho. A lei atual garante a manutenção do contrato de emprego, pelo prazo mínimo de 12 meses, após o fim do pagamento do auxílio-doença acidentário.


A ideia é proteger esses profissionais que, lesionados, muitas vezes são demitidos com a justificativa de impossibilidade de executar a função, após o período de estabilidade garantido em lei.


“Estamos cada vez mais expostos à exploração, ao assédio moral, às péssimas condições de trabalho, aos salários cada vez mais rebaixados e principalmente aos acidentes e doenças profissionais”, denunciou o presidente da Associação dos Trabalhadores Lesionados nas Indústrias Metalúrgicas do Vale do Paraíba (SP), Luís Fabiano Costa.


Ele observou que, nos últimos anos, foram revogadas diversas normas aplicadas ao setor que funcionavam como medidas de segurança para evitar acidentes e lesões.


Dificuldade de comprovação

 

Segundo os debatedores, um dos impasses para receber indenização é a dificuldade em comprovar o nexo causal entre a lesão e o trabalho, uma vez que estas também podem ser causadas por prática de esportes e em atividades domésticas.


Pelas regras atuais, a empresa é responsável, quer por ação ou omissão, pela lesão ou doença ocupacional gerada no ambiente de trabalho. Dessa forma, tem de arcar com os danos materiais, que são contabilizados, como as despesas médicas, entre outros; além dos danos morais, que não podem ser contabilizados, como é o caso do sofrimento da vítima.


Como solução, esses profissionais defendem que as regras sobre o tema sejam fixadas em lei, e não em acordos coletivos. Essa foi a demanda da trabalhadora lesionada Renata Rothje Ruiz, que adquiriu a lesão no trabalho e há sete anos pleiteia o direito de indenização na Justiça.


“Desde que me tornei lesionada, fui perseguida, maltratada e muitas vezes humilhada dentro da empresa”, relatou a profissional, que também disse ter sofrido de depressão.


Regras de análise

 

Os participantes do debate criticaram a medida provisória (MP 1113/22) que promoveu mudanças no modelo de análise de pedidos de benefícios pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Aprovada pelo Congresso, a MP ainda aguarda a sanção do Executivo.


A reclamação foi de que a medida deixa ainda mais vulnerável o trabalhador com doença profissional, ao obrigar segurados de auxílio-acidente a se submeter a perícia médica administrativa.


Nesse sentido foi a queixa do trabalhador lesionado Antônio Benedito Gonçalves. “A qualquer momento eu posso ser chamado para uma nova perícia que pode cortar meu benefício. Peço que olhem para nós não como simples peças de reposição”, declarou.

 

Fonte: Liderança do PCdoB com Agência Câmara - Do Blog de Noticias da CNTI

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

‘Reforma’ trabalhista foi contraditória ao propor negociação coletiva e enfraquecer sindicatos

Número de acordos diminuiu. E em vez de avançar, agora se caracterizam pela tentativa de manter direitos, afirma professor
Trabalho

São Paulo – Com quase cinco anos de vigência, a Lei 13.467, da “reforma” trabalhista, continua sendo questionada. Além de os prometidos empregos não aparecerem, outra crítica está no fato – contraditório – de a nova legislação propor fortalecimento da negociação coletiva e, ao mesmo tempo, enfraquecer os atores sociais responsáveis por essa negociação. No caso, os sindicatos.

É o que sustenta, por exemplo, o professor Francisco Gérson Marques de Lima, da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC), e subprocurador-geral do Trabalho. “Urge esclarecer que a política de prevalência do negociado sobre o legislado e da desregulação do trabalho requer sindicatos fortes e incentivos à negociação”, afirma, em estudo sobre o tema. “É contraditório que o legislador anuncie a primazia da negociação, enquanto cause enfraquecimento dos sindicatos profissionais, provocando a ruptura do indispensável equilíbrio de forças entre o capital e o trabalho, entre os agentes da negociação coletiva”, acrescenta.

Queda nas negociações

Um sinal de que a negociação coletiva não prevaleceu foi a queda desse instrumento, pelo menos segundo dados do próprio governo. A diminuição começou justamente em 2017, o ano da reforma. “Aliás, em 2021, o Brasil chegou ao menor número de negociações coletivas desde 2010. Pior: sem qualquer indicativo ou expectativa de retomada”, destaca o professor, que também coordena o chamado Projeto Grupe (Grupo de Estudos em Direito do Trabalho). Convenções e acordos coletivos somaram 34.871 no ano passado, segundo o Sistema Mediador, do Ministério da Economia, em dados reunidos pelo Dieese. De 2011 a 2017, o total oscilou de 46 mil a 49 mil.

Também mudou o caráter da negociação, salienta o pesquisador. Até o que ele chama de “contrarreforma”, acordos e convenções costumavam ficar acima da CLT. Ou seja, com mais direitos assegurados. “Agora, sob à nova lei trabalhista, as negociações se dão para não perder direitos.”

Sem regras de transição

Ele observa ainda que a Lei 13.467 não estabeleceu regra de transição e provocou uma abrupta queda de receita nas entidades sindicais, ao eliminar a contribuição anual obrigatória. Assim essas entidades, lembra o estudo, recebem atualmente 1% do que recebiam em 2016, ano anterior à reforma. “Caso se tratassem de empresas, certamente os sindicatos teriam pedido falência, em face da insolvência, porque nem recuperação daria mais. E se fossem órgãos públicos, teriam parado de funcionar, provavelmente teriam sido incorporados por outro órgão da Administração”, compara.

Com isso, a “reforma” trabalhista também desequilibrou a balança das negociações. “Enquanto a representação sindical de trabalhadores recebeu, em 2020, R$ 42,9 milhões, a representação patronal recebeu, apenas do sistema “S” (tirante outras receitas), valor na casa dos R$ 15,9 bilhões. Ou seja, as entidades profissionais receberam 0,27% (vinte e sete centésimos por cento) do percebido pela representação patronal. (…) “Trata-se de uma diferença abissal, que agrava o desequilíbrio de forças entre o capital e o trabalho, entre as representações de empregados e de empregadores”, alerta o professor. Isso se reflete, inclusive, na composição do parlamento, com bancada empresarial muito superior à dos trabalhadores.

Para piorar, os sindicatos perderam sócios nos últimos anos, uma tendência que se acentuou após a “reforma” trabalhista. Em 2012, segundo o IBGE, a taxa de sindicalização era de 16,2%. Em 2019, estava em 11,2%. “Enfim, pelo que se percebe, o atual pensamento do legislador, do governo e da jurisprudência consolidada não tem contribuído para o aprimoramento das relações coletivas de trabalho nem para o fortalecimento dos sindicatos. Pelo contrário, tem colaborado para o declínio das principais taxas que medem o nível dessas relações e para acentuar o desequilíbrio entre o capital e o trabalho”, diz o professor em suas conclusões.

Confira aqui a íntegra do estudo.

FONTE: REDE BRASIL ATUAL

 https://www.redebrasilatual.com.br/trabalho/2022/08/reforma-trabalhista-contraditoria-negociacao-coletiva-enfraquecer-sindicatos/

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Salários ainda perdem para inflação, mostra Dieese

Os salários perdem para inflação. Quem nos mostra isso é o Dieese, por meio do Boletim 23 – “De Olho nas Negociações”.

Acordos acompanhados até 10 de agosto indicam que 31,8% dos salários tiveram ganhos acima do INPC (Indice Nacional de Preços ao Consumidor) acumulado em 12 meses.

Em 20,8% dos casos, os reajustes foram iguais à inflação. Porém, 47,3% das negociações tiveram resultado abaixo do INPC.

A variação real média dos reajustes de julho ficou negativa em -1,10%. Mesmo com a deflação de 0,6% no mês, o reajuste necessário para zerar a inflação na data-base de agosto seria de 10,12%.

Considerando apenas os reajustes com ganhos acima do INPC, a variação real em julho foi de 0,39%, muito aquém da alta de preços.

Como isso impacta na vida das famílias?

Levando em conta todas as negociações neste ano, 20,7% dos reajustes negociados ficaram acima do INPC. Outros resultados: 35,4% tiveram valores iguais ao índice e 43,9% não repuseram as perdas inflacionárias.

Segundo Luis Ribeiro, técnico do Dieese e responsável pelo acompanhamento das negociações coletivas, a consequência imediata desse cenário é a diminuição da renda média e do poder aquisitivo dos trabalhadores devido à inflação elevada.

Por que os salários ainda perdem para inflação?

De acordo com Luis Ribeiro, além da inflação de dois dígitos “a informalidade e o alto índice de desemprego são os principais motivos para os salários de várias categorias não receberam ganhos reais”.

Para ele, o medo da demissão também tem um papel fundamental nessa equação: “os funcionários de carteira assinada não querem entrar em greve por medo de perder o emprego e isso faz com que as negociações salariais sejam prejudicas. E mesmo quando o trabalhador consegue um reajuste que acompanha o INPC acumulado dos 12 meses, a inflação alta logo corrói o seu poder de compra”, ressalta.

Sindicato forte consegue salário com ganho real

No acumulado do ano, até julho, reajustes iguais ou acima do INPC foram mais frequentes no comércio (69,6%). Na indústria, o percentual de resultados iguais ou acima da inflação ficou em 65% – um pouco inferior ao observado no comércio.

Nos serviços, 52,6% dos reajustes não conseguiram repor a inflação. Mas é no setor industrial que se nota o maior percentual de reajustes com aumentos reais: 26,9%.

“Categorias que têm um sindicato forte têm maior poder de negociação e conseguem reajustes com ganhos reais, isso explica porque indústria e comércio apresentam melhores índices”, conta Luis.

Para o acumulado entre agosto e dezembro, o técnico do Dieese prevê uma pequena melhora de cenário, mas sem perspectiva de estabilidade em longo prazo.

“Apesar de ainda não termos dados oficiais, a perspectiva é que até o final do ano a gente tenha um cenário um pouco melhor. Isso porque muitas categorias, com sindicatos fortes, começam à fechar acordos, o que gera uma pequena melhora nos indicadores. Mas não quer dizer que haverá uma retomada econômica do país, pois as medidas adotadas pelo governo federal visando à eleição também vão impactar nos salários em 2023”.

Veja aqui o Boletim De Olho nas Negociações.

 

FONTE:  Agência Sindical

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

FGTS corre perigo! – Josinaldo Barros

FGTS corre perigo! – O presidente Bolsonaro quer agravar a reforma trabalhista feita por Michel Temer. Ou seja, quer cortar direitos e precarizar até o talo as nossas condições de trabalho. Como assim?

Pois bem: os grandes jornais já anunciaram duas Medidas Provisórias nesse sentido. E por que o governo recuou? Por medo de perder as eleições, pois as medidas são muito impopulares.

O alvo principal é o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que existe desde 1965.

Quando o Fundo foi criado, era assim: a empresa contribuía com 8% sobre o salário e quando demitisse o empregado pagaria multa de 10% sobre o saldo depositado. Essa multa mudou e vou contar como.

Na Assembleia Constituinte, o movimento sindical pressionou e conseguiu aumentar a multa na demissão sem justa causa de 10% pra 40% do saldo do FGTS.

Mas Jair Bolsonaro quer reduzir a multa à metade, ou seja, 20% do saldo que o empregado tem no FGTS.

Exemplo. Digamos que você é dispensado e tem R$ 15 mil de Fundo. Com a multa atual, que está garantida na Constituição, você recebe R$ 6 mil. Com a mudança pretendida por Bolsonaro, você receberia apenas a metade disso, ou seja, R$ 3 mil.

Mas o homem quer danar ainda mais com o trabalhador. Quer que o recolhimento feito pela empresa caia de 8% pra 2%. Se você ganha R$ 3 mil, todo mês o empregador recolhe R$ 240,00. Se cair pra 2%, seu FGTS mensal vai ser de apenas R$ 60,00.

Essa redução (8% pra 2%) pode ser boa pro patrão, mas é uma facada no empregado. E a multa? Vamos supor que a empresa demita 10 empregados de uma vez, com salário médio de R$ 3 mil. O total da multa hoje é R$ 12 mil. Com a ideia de jerico do Bolsonaro, a multa cairia pra R$ 6 mil. Ou seja, ficaria mais barato o patrão demitir.

Mas isso é verdade? Pois dê uma busca no Google. Escreva “Bolsonaro quer mudar o Fundo de Garantia”. Ou “Bolsonaro quer reduzir a multa sobre o FGTS”. Você vai ver que Folha de S. Paulo, Valor Econômico e outros já deram essa notícia.

Veja bem: quando a gente alerta em porta de fábrica tem companheiro que duvida. Pior: pra alguns, o alerta é campanha a favor do candidato A ou B. Tenha a santa paciência! O Sindicato não se engaja em campanhas. O que pode ocorrer é nossos diretores apoiarem certos candidatos. Na democracia é assim mesmo: cada cidadão vota em quem achar melhor. E campanha faz parte do jogo eleitoral.

FIQUE DE OLHO – Pergunta pros mais velhos sobre o golpe que o PMDB deu no Plano Cruzado depois das eleições. Estava tudo com os preços congelados. Mas uma semana depois da eleição o presidente Sarney liberou geral. Político malandro é assim mesmo: joga a pedra, mas esconde a mão.

Não vamos deixar que joguem pedra no nosso Fundo de Garantia!

BANCADA – Por tudo isso, precisamos eleger uma bancada de deputados e senadores alinhada com os direitos trabalhistas e sociais.

Josinaldo José de Barros (Cabeça)

 
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região.


Diretoria Metalúrgicos em Ação

Email – josinaldo@metalurgico.org.br
Site – www.metalurgico.org.br

Clique aqui e leia mais opiniões

 

FONTE: Agencia Sindical - https://www.agenciasindical.com.br

 

Falta de recolhimento do FGTS causa rescisão indireta, decide o TST


A ausência do recolhimento dos depósitos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) é uma falta grave do empregador e dá razão à rescisão indireta, ou seja, o rompimento do contrato com o pagamento, por parte da empresa, das verbas rescisórias devidas no caso de dispensa imotivada.


Esse entendimento foi adotado pela 6ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho ao reconhecer a rescisão indireta do contrato de um motorista da Kings Governança de Serviços, de São Paulo, decorrente da falta de recolhimento do FGTS durante nove meses.


Na reclamação trabalhista, o motorista alegou o cometimento de diversas faltas graves pela empresa, como o não recolhimento do FGTS, a não concessão de intervalo intrajornada e o não pagamento de vale-refeição. Ele pediu, assim, a rescisão indireta do contrato (equivalente à justa causa do empregador) a partir de 17/4/2019, último dia em que havia trabalhado, com o recebimento de todas as parcelas devidas.


A empresa, em sua defesa, alegou que o empregado foi demitido por justa causa, por abandono de emprego, em 16/5/2019. Essa alegação, porém, foi descartada pelo juízo de primeiro grau, que assinalou que sua caracterização exige a intenção do empregado de não mais retornar ao trabalho e a ausência injustificada e prolongada por mais de 30 dias.


Segundo a sentença, a reclamação trabalhista foi ajuizada em 22/4/2019 e a empresa foi notificada três dias depois. Além disso, documentos demonstram que o motorista enviou telegrama, recebido também em 25/4, informando que havia ajuizado a ação e que não compareceria à empresa até a decisão final, como facultado pelo parágrafo 3º do artigo 483 da CLT. Com isso, reconheceu a rescisão indireta, diante da comprovação da ausência dos depósitos do FGTS.


O Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (Grande São Paulo e litoral paulista), porém, reformou a sentença. Segundo a decisão, a "justa causa do empregador" é caracterizada pelas atitudes da empresa que tornem a relação de emprego insustentável, e, para isso, é necessário que a comprovação dos atos ilícitos seja contundente, "demonstrando a atitude desonesta, amoral ou ofensiva" do empregador.


Para a corte regional, a inadimplência dos depósitos do FGTS, por si só, não justifica a rescisão indireta. "Trata-se de verba que se torna disponível ao empregado apenas no momento da rescisão contratual, e não tem o condão de tornar insuportável a relação de emprego", concluiu, ao excluir da condenação o pagamento do aviso prévio indenizado e da multa de 40% sobre o saldo do FGTS e a liberação das guias para levantamento do fundo, entre outros.


Essa decisão foi reformada pela 6ª Turma do TST. A relatora do recurso de revista do motorista, ministra Kátia Arruda, observou que, de acordo com a jurisprudência da corte, o descumprimento de obrigação essencial ao emprego, como não depositar o FGTS, justifica a rescisão indireta. Essa posição foi demonstrada em diversos precedentes citados em seu voto. A decisão foi unânime. Com informações da assessoria de imprensa do TST.

Clique aqui para ler o acórdão

RR 1000629-30.2019.5.02.0609

 

Fonte: Consultor Jurídico - Do Blog de Notícias da CNTI

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Contrarreforma trabalhista cria empregos na Espanha e pode ser exemplo para Brasil

 Candidatos à Presidência prometem revogar legislação trabalhista brasileira aprovada em 2017, no governo Temer

 
Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

Reforma trabalhista no Brasil flexibilixou contratações e estagnou renda do trabalhador
Reforma trabalhista no Brasil flexibilixou contratações e estagnou renda do trabalhador - Reprodução

A Reforma Trabalhista aprovada em 2017, durante o governo do ex-presidente Michel Temer (MDB), virou alvo de críticas de candidatos à Presidência nesta eleição. Pelo menos cinco deles, incluindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder nas pesquisas de intenções de voto, já prometeram revogar ao menos alguns trechos da nova legislação por a considerarem maléfica ao trabalhador.

Sancionada para reduzir obrigações trabalhistas de empresários e, com isso, gerar 6 milhões de postos de trabalho, a reforma praticamente não baixou o nível do desemprego no país, que só neste ano voltou a afetar menos de 10% da população. Ainda estagnou o nível de renda do trabalhador, que segue em cerca de R$ 2.700 mensais após cinco anos, apesar de a inflação acumular alta de 30% nesse período.

:: Reforma vira tema eleitoral após reduzir salários e empregos ::

Parte dessa estagnação da renda tem a ver com a precarização das relações de trabalho resultante da reforma, que facilitou a terceirização, a contratação temporária e até intermitente de trabalhadores no Brasil. Tudo isso, justamente quando o país já vivia uma crise econômica, que se agravou com o início da pandemia do coronavírus.

Candidatos que querem rever a Reforma Trabalhista:

. Ciro Gomes (PDT)
. Léo Péricles (UP)
. Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
. Sofia Manzano (PCB)
. Vera Lúcia (PSTU)

Reformas na Espanha

Na Espanha, o cenário não era muito diferente entre 2008 e 2012, quando reformas trabalhistas entraram em vigor por lá. Em 2008, o país sofreu com crise relacionada à quebra do banco Lehman Brothers, dos Estados Unidos. Em 2011, passou a ser governado por um presidente de um partido conservador –Mariano Rajoy, do Partido Popular–, que via na flexibilização das relações de trabalho uma forma de gerar emprego.

Nesse contexto, a Espanha modificou sua legislação para facilitar a contratação temporária de trabalhadores e reduzir o peso das negociações coletivas, feitas por sindicatos, sobre salários e benefícios –medidas semelhantes àquelas adotadas no Brasil anos depois.

::Reforma trabalhista reduz arrecadação de sindicatos e prejudica trabalhador::

A criação de vagas na Espanha até cresceu nos anos pós-reforma, mas muitos postos de trabalho criados eram temporários, os quais tendem a deixar o trabalhador em instabilidade.

Rajoy deixou o governo em 2018. Em seu lugar, assumiu Pedro Sánchez, do Partido Operário Espanhol, alinhado à esquerda. Segundo o advogado José Eymard Loguercio, pesquisador e presidente do Instituto Lavoro, ele agiu para dificultar as demissões durante a pandemia. Quando ela arrefeceu, já tinha capital político para propor a revogação de boa parte das regras que passaram a valer anos antes.

A contrarreforma veio no final de 2021. Loguercio explicou que ela criou regras para restringir a contratação de trabalhadores por prazo determinado e devolveu às negociações coletivas a importância que elas tinham.

:: PT troca "revisão" por "revogação" da reforma trabalhista em proposta para campanha de Lula ::

Resultados positivos

As mudanças, de acordo com o Ministério do Trabalho e Economia Social da Espanha, são positivas até aqui. O número de trabalhadores desempregados caiu de cerca de 3,1 milhões, em janeiro, para 2,9 milhões em julho deste ano –menor número para o mês já registrado nos últimos 14 anos.

Em julho de 2021, os desempregados na Espanha eram cerca de 3,4 milhões. A redução de mais de 500 mil desempregados em um ano é a maior já registrada para julho.

No primeiro semestre deste ano, o número de novos contratos de trabalho firmados na Espanha chegou a 11,2 milhões –7% mais do que no mesmo período de 2021.

:: Revisão de reforma trabalhista é apoiada por 58% dos brasileiros ::

Mais importante ainda é que o número de contratos indefinidos, sem tempo determinado, cresceu ainda mais. Foram 3,9 mil vagas criadas de janeiro a julho –253% mais do que no mesmo período do ano anterior.

Só em julho, foram 685 mil vagas de trabalho sem prazo definido criadas. Elas foram 41% do total daquele mês. Antes da contrarreforma, era comum que as vagas temporárias representassem cerca de 90% do total de novos empregos criados.

“Há também uma questão do ciclo econômico, da saída de uma crise causada pela pandemia”, ressaltou Loguercio, do Instituto Lavoro. “Mas o importante é a quebra esse discurso de que você é precisa rebaixar as garantias trabalhistas para gerar emprego. A Espanha faz uma reorientação da legislação e consegue com isso promover e gerar emprego."

::Podcast: Em 2021 foram realizadas 721 greves::

Momento brasileiro

O sociólogo e técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Luis Ribeiro, disse que as notícias que chegam da Espanha são animadoras e destaca que elas vão além das são econômicas.

“A melhoria da renda e emprego geram desenvolvimento. Acredito nisso”, afirmou ele. “Mas há questões que não são apenas econômicas. Um país tem que definir alguns valores básicos de dignidade, de trabalho decente, de remuneração digna para o combate à desigualdade. A mudança na reforma trabalhista espanhola vai nesse sentido.”

::Opinião. Por uma nova lei trabalhista e a situação da classe trabalhadora::

Para Ribeiro, o Brasil está hoje num momento propício para debater esse tipo de valores básicos. Segundo ele, esta eleição tende a definir que tipo de trabalho o país pretende gerar: o menos protegido, proposto por Temer em 2017, ou o mais digno, o qual está sendo defendido por candidatos a presidente opositores do governo de Jair Bolsonaro (PL).

Loguercio também crê que a Reforma Trabalhista terá de ser revista caso o país queria criar uma sociedade mais justa.

"Em algum momento ele terá que ser feito caso nós queiramos é diminuir a miséria e a desigualdade porque a reforma como ficou induz relações de trabalho precárias", afirmou ele.

Edição: Rodrigo Durão Coelho

 

FONTE: BRASIL DE FATO

https://www.brasildefato.com.br/2022/08/24/contrarreforma-trabalhista-cria-empregos-na-espanha-e-pode-ser-exemplo-para-brasil

terça-feira, 23 de agosto de 2022

Reforma Trabalhista: desmantelo, falência e precarização do trabalho

“A Reforma Trabalhista de 2017 e a jurisprudência vigorante não contribuíram para a liberdade sindical nem [tampouco] para a mudança de hábitos do sindicalismo brasileiro”, é a conclusão que chega o professor Francisco Gérson Marques de Lima1, por meio do estudo “Sindicatos em números: reflexões sobre a sindicalismo brasileiro após 2017”.


“Urge esclarecer que a política de prevalência do negociado sobre o legislado e da desregulação do trabalho requer sindicatos fortes e incentivos à negociação. É contraditório que o legislador anuncie a primazia da negociação, enquanto cause enfraquecimento dos sindicatos profissionais, provocando a ruptura do indispensável equilíbrio de forças entre o capital e o trabalho, entre os agentes da negociação coletiva”, aponta Gérson Marques.


É importante esclarecer e lembrar, que o MPT (Ministério Público do Trabalho), por meio de nota técnica, denunciou que a intensão do autor e da maioria do Congresso ao querer explicitar — o que estava implícito — o negociado sobre legislado, sob a proteção da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) era para retirar direitos e não os proteger ou amplia-los.


Trocando em miúdos: a legislação anterior à Reforma Trabalhista não impedia a negociação acima da lei; impedia abaixo. Agora, sob à nova lei trabalhista, as negociações se dão para não perder direitos.


As convenções coletivas anteriores à contrarreforma, em geral, ficavam acima da CLT. Os acordos coletivos, do mesmo modo, ficavam acima das convenções.


Sem regra de transição

 

No estudo, o professor lembra que “a Lei 13.467/17 não estabeleceu nenhuma regra de transição, levando os sindicatos a amargarem queda abrupta e profunda nas receitas, com reflexos no fechamento de entidades e na impossibilidade de desenvolverem parte de suas atividades.”


Ao pensarem a lei, no formato final que o Congresso restou oferecer ao texto original enviado ao Legislativo pelo então presidente Michel Temer (MDB), o legislador quis mesmo desmantelar as entidades sindicais, fali-las, a fim de que não pudessem interferir no desmonte de direitos que viria a seguir.


Os dados do estudo revelam que “as entidades sindicais profissionais recebem [hoje] 1% do que recebiam no ano [2016] anterior à vigência da Reforma Sindical. Este percentual é 0,27% do que o ‘Sistema S’ alimentou, em 2020, as entidades patronais, o que revela um desequilíbrio abissal entre o capital e o trabalho”, está nas considerações finais do estudo do professor.


Vale à pena debruçar-se sobre as “provocações” e “reflexões” dessa “pesquisa estatística e de observação”, como escreve o professor, para futuras alterações, necessárias, nessa contrarreforma trabalhista.


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1Doutor e pós-doutor em Direito, professor da Faculdade de Direito da UFC, subprocurador-geral do Trabalho, conselheiro do Conselho Superior do MPT, membro do Nupia (Núcleo Permanente de Incentivo à Autocomposição na Procuradoria-Geral do Trabalho), coordenador do Projeto Grupe (Grupo de Estudos em Direito do Trabalho), membro fundador da ACDT (Academia Cearense de Direito do Trabalho) e membro da ACLJ (Academia Cearense de Letras Jurídicas).

 

Fonte: Diap _ Do Blog de Notícias da CNTI

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

16 Deputados somam mais de R$ 1 milhão em multas ambientais do Ibama

 

Gutemberg Reis (MDB-RJ) teve a multa mais alta e Barbudo (PL-MT) quer reduzir de R$ 50 milhões para R$ 5 mil o limite

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Multado pelo Ibama, o deputado Nelson Barbudo (PL-MT) apresentou projeto de lei visando reduzir o valor máximo das punições ambientais - Wesley Amaral/Câmara dos Deputados

Ao menos 16 deputados federais somam mais de R$ 1 milhão em multas ambientais do Ibama. Desmatamento, caça e pesca ilegais, bem como construção em área de preservação sem autorização prévia, estão entre as principais infrações cometidas pelos parlamentares multados. 

O levantamento considera tanto os parlamentares como suas  empresas e se baseia em dados do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais). As informações podem ser consultadas no Ruralômetro, ferramenta desenvolvida pela Repórter Brasil que, desde 2018, avalia a atuação dos deputados federais diante de votações e projetos de lei que impactam, positiva ou negativamente, o meio ambiente, os povos indígenas e os trabalhadores rurais.

Dos 16 políticos punidos pelo Ibama, 13 tiveram atuação legislativa desfavorável à agenda socioambiental, segundo o Ruralômetro. Isso significa que eles apresentaram projetos ou votaram medidas que são negativas para o meio ambiente e os povos do campo. O número de parlamentares infratores ambientais identificados pela plataforma na atual legislatura é três vezes maior do que no período anterior

(Infografia: Fernanda Segabinassi/Repórter Brasil)

As multas aplicadas aos eleitos em 2018 variam de R$ 600 a R$ 800 mil, como é o caso do deputado Gutemberg Reis (MDB-RJ). Sua empresa, a GR Caxias Construções e Empreendimentos Imobiliários, foi penalizada por iniciar a construção de um condomínio em Área de Preservação Ambiental (APA) em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. 

Além da multa e embargo pelo Ibama, o Ministério Público Federal moveu ação em 2020 contra a prefeitura do município e o Inea (Instituto Estadual do Ambiente), do Rio de Janeiro, por terem autorizado o desmate para o empreendimento, apesar de posicionamento contrário do Ibama e do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade). A Justiça embargou a obra, que impactava a Reserva Biológica do Tinguá. Procurado, o deputado Gutemberg Reis disse que não comentaria o caso.

O aval para a obra foi concedido em 2005, quando o prefeito de Duque de Caxias era o irmão do deputado, Washington Reis (MDB). Ele foi condenado pelo caso no STF (Supremo Tribunal Federal), em 2016, a sete anos de reclusão por crime ambiental, mas ainda há recursos a serem julgados. A defesa alegou que normas ambientais do Conama (Conselho Nacional de Meio Ambiente) alteradas em 2010 — que permitiram obras a uma distância mínima de 3 km de unidades de conservação —  poderiam ser utilizadas retroativamente para beneficiar o réu, mas a segunda turma do Supremo rejeitou os argumentos no ano passado. Washington Reis concorre a vice na chapa do governador Cláudio Castro (PL-RJ), mas a candidatura é contestada pelo MPF em razão da condenação. A reportagem não conseguiu contato com o candidato.

Empresa do deputado Gutemberg Reis (MDB-RJ) foi multada em R$ 800 mil por construir condomínio em área de preservação em Duque de Caxias (RJ) (Foto: Vinícius Loures/Câmara dos Deputados)

Já a prefeitura de Duque de Caxias afirmou, por meio de nota, que “detém a competência para a concessão de licença para empreendimentos que tenham impacto ambiental local” e que a autorização dada à construtora cumpriu as exigências legais. O município também informou que o ICMBio manifestou “que não era responsável administrativamente pela área” e que “reconheceu a competência do Inea” sobre o caso. A respeito de o então prefeito ser irmão do deputado e proprietário da construtora, a prefeitura negou favorecimento ou conflito de interesse. 

O Inea afirmou, em nota, que os questionamentos foram respondidos à Justiça. Já o Ibama não se manifestou. O processo, que gira em torno de uma discussão jurídica sobre qual órgão público seria de fato o responsável por autorizar o desmate no local, ainda tramita na Justiça Federal do Rio de Janeiro (confira os posicionamentos na íntegra).

O imbróglio envolvendo o deputado fluminense é a penalidade ambiental mais alta do levantamento feito pela Repórter Brasil, mas não a única. Depois de Gutemberg está o deputado Luciano Bivar (União-PE), multado em R$ 100 mil em 2012 por construir em local de valor paisagístico ou ecológico sem autorização, em Jaboatão dos Guararapes (PE). Procurada, a assessoria de imprensa do parlamentar disse que buscaria mais informações sobre a infração, e, mesmo cobrada novamente, não respondeu. 

‘Preservacionista liberal’

Foi por desmatar 15 hectares de uma Área de Preservação Permanente (APP) em sua própria fazenda, em Alto Taquari (MT), que o deputado Nelson Barbudo (PL-MT) recebeu uma multa de R$ 25,5 mil em 2005. À Repórter Brasil, o deputado afirmou que a fazenda foi vendida em 2009. Ainda que não seja o valor mais alto entre os deputados multados, o parlamentar mato-grossense chegou a elaborar um projeto de lei para reduzir drasticamente o teto para multas ambientais, o que poderia beneficiá-lo. De acordo com o texto, o limite seria reduzido de R$ 50 milhões para R$ 5.000 para infratores primários, e o cálculo para as multas obedeceria critérios como área da propriedade e renda do proprietário. Atualmente, o cálculo é baseado não apenas na situação econômica, mas também na gravidade da infração e nos antecedentes do infrator. 

Eleito em 2018 como o deputado mais votado do Mato Grosso e puxado pela onda bolsonarista daquela eleição, o estreante na Câmara dos Deputados apresentou ao menos oito projetos de lei que, segundo especialistas consultados pela reportagem, são desfavoráveis ao meio ambiente.

Mais da metade desses projetos colocam em risco territórios indígenas e seus habitantes. É o caso de uma proposta de julho de 2020, que altera o Estatuto do Índio, permitindo o registro de imóveis em terras indígenas (TIs) ainda não homologadas. A medida, que não chegou a ser votada no plenário, buscava reforçar o que a Instrução Normativa número 9, publicada pela Funai em abril daquele ano, já havia autorizado. No texto, Nelson Barbudo justifica-se dizendo que o projeto traria mais segurança jurídica para o cumprimento da normativa. 

Outro caso é o do projeto para aproveitamento de recursos hídricos de sete hidrovias que passam por TIs entre as regiões Norte e Centro-Oeste. Em outro texto, Barbudo propõe permitir a exploração econômica desses territórios por meio de atividades rurais associadas com não indígenas. Outra proposta, ainda mais específica, autoriza a pesca esportiva em unidades de conservação e em TIs.

À Repórter Brasil, Barbudo afirmou que seu projeto visa a “arrecadação monetária” e beneficiaria essas comunidades. “As pessoas do mundo inteiro vão trazer dinheiro para fazer a pesca: dólar, euro… isso sim é proteger o meio ambiente, porque é ser contra a pesca predatória”, afirmou. “Estou sendo preservacionista.” 

Também é de autoria do deputado uma proposição que prevê que propriedades privadas existentes em áreas de conservação só deverão ser desapropriadas mediante prévia indenização em dinheiro. O texto ainda estabelece que, se o pagamento ao proprietário não for feito em até cinco anos, a norma que criou a unidade de conservação deixará de valer.  

Deputado com a pior avaliação no Ruralômetro 2022, Barbudo participa ativamente dos debates ambientais na Câmara. O parlamentar é membro da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, onde é suplente do deputado Covatti Filho (PP-R). Ali, sua atuação diante dos pareceres emitidos tem sido similar às propostas que apresenta. Rejeitou, por exemplo, um projeto de lei que prevê penas mais duras e multas maiores para infratores ambientais

À reportagem, Barbudo afirmou que se considera um defensor do meio ambiente. “Se você vier ao Mato Grosso eu vou te levar em fazendas que controlam muito mais [o desmatamento] do que o Ibama. A nossa cultura no Mato Grosso é de preservacionismo”, afirmou. “E eu sou preservacionista liberal”. De todos os projetos apresentados em que ele é o único autor, nenhum, até o momento, foi aprovado.

Sobre a multa recebida em 2005, Barbudo confirmou o valor, disse que o débito ainda não foi quitado e que está recorrendo. “Estou demandando judicialmente até hoje sobre esta multa e recentemente assinei um acordo para pagá-la.” 

No Senado, o cenário é muito parecido: levantamento da Repórter Brasil em parceria com a Agência Pública em junho deste ano mostrou que os mesmos senadores que hoje analisam mudanças na lei que podem ter impactos ao meio ambiente já foram multados em quase meio milhão de reais pelo Ibama. 

Ofensiva do Congresso

Embora se autodenomine “preservacionista”, projetos apresentados por Nelson Barbudo nos últimos anos fazem parte de uma ofensiva travada pelo Congresso, em especial nesta legislatura, contra a agenda socioambiental. Ao menos 351 deputados têm atuação prejudicial à natureza e aos povos do campo, segundo o Ruralômetro, o que representa 68% da Câmara, ou 2 a cada 3 deputados.

De acordo com o cientista político e sociólogo Alberto Carlos Almeida, essa atuação dos deputados segue uma linha ditada pelo Executivo. Por isso, não adiantaria apenas uma renovação nas cadeiras do Congresso para que a agenda ambiental mudasse de rota em Brasília. “Quem lidera essas agendas na Câmara e no Senado de modo geral é o Poder Executivo, inclusive essa agenda antiambiental”, afirma. “O comportamento dos deputados está muito condicionado ao Executivo e é uma resposta a Bolsonaro”.

Almeida, que também é coautor de “A mão e a luva: o que elege um presidente?” (Record, 2022) e outros livros que estudam o comportamento do eleitor, lembra, no entanto, que o eleitorado tem peso importante nas direções seguidas pelos dois poderes. “A opinião pública poderia reagir diante dessa agenda antiambiental, mas não reage, afirma. “Preservar o meio ambiente não é uma coisa trivial.”

 

Esta reportagem foi realizada com o apoio da DGB Bildungswerk, no marco do projeto PN: 2020 2611 0/DGB0014, sendo seu conteúdo de responsabilidade exclusiva da Repórter Brasil

FONTE: BRASIL DE FATO

https://www.brasildefato.com.br/2022/08/21/16-deputados-somam-mais-de-r-1-milhao-em-multas-ambientais-do-ibama