Economistas da Unicamp criticam pacote econômico de Bolsonaro
contra a crise provocada pelo coronavírus (Covid 19)
Escrito por: Fundação Perseu Abramo
Agência Brasil
A
crise econômica provocada pela pandemia do Coronavirus (Covid 19) pode
estar muito distante de ser superada se o governo de Jair Bolsonaro (sem
partido) não tomar medidas que protejam os trabalhadores. A avaliação é
de pesquisadores e professores de economia da Unicamp que divulgaram
uma série de ações que o governo deve implantar (veja abaixo).
A
doutora em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Pesquisa
Econômica da Unicamp, Ana Luiza Matos de Oliveira, que também assina o
documento com as sugestões, critica ainda a MP 927, do governo.
“Em
um momento de profunda incerteza sobre o futuro, o governo de Jair
Bolsonaro, para o desespero de todos, decide propor uma Medida
Provisória (927/2020) que permite “suspender” contratos de trabalho por
quatro meses, deixando os trabalhadores no papel empregados, mas sem
renda nenhuma. É a receita perfeita para a “pandemia” social e
econômica, na contramão de todo o resto do mundo. Enquanto isso,
diversas organizações como (sim!) o Fundo Monetário Internacional (FMI) e
o Banco Mundial têm defendido que os países realizem gastos massivos
para reduzir os efeitos da "coronacrise" na economia.
A crise, com
inegáveis impactos sociais no âmbito da saúde, tem impactos profundos
em especial para os mais pobres e mais vulneráveis, algo que já foi
entendido pela maioria dos países mundo afora e que começam a seguir os
conselhos dos insuspeitos FMI e Banco Mundial e armar planos ousados de
salvamento de suas economias.
Enquanto Reino Unido, Alemanha,
Estados Unidos, Argentina, países com governantes de diversos espectros
políticos, tem apresentado planos de intervenção do Estado na economia, a
equipe de Paulo Guedes - aquele liberal do mercado financeiro sem
experiência nenhuma em setor público – parece completamente perdida,
apresenta planos mal feitos, muda de ideia todos os dias e, o mais
importante, se recusa a abrir mão do arcabouço da austeridade enquanto
todo o mundo (até o FMI) mostra que é hora de gastar em saúde, em
proteção social, em investimento.
Por aqui, Guedes praticamente se
limitou a adiantar recursos ou atrasar pagamentos devidos por empresas e
pessoas, além de ter uma avaliação de que a coronacrise só terá impacto
no Brasil durante o ano de 2020. E agora, pior, quer jogar a conta da
crise nas costas dos trabalhadores e permitir uma brutal queda da renda
(e consumo!) dos trabalhadores com carteira assinada.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que os impactos socioeconômicos da pandemia do Covid-19 devem levar a uma perda de 25 milhões de empregos em todo o mundo,
caso os piores cenários se concretizem, empurrando os trabalhadores
para o desemprego, subemprego e "working poverty" - que ocorre quando
mesmo trabalhando o trabalhador não consegue se manter fora da pobreza.
Aqui no Brasil pode-se esperar também que o impacto será massivo no
mercado de trabalho. Nem a MP de Bolsonaro e Guedes, que visa mascarar a
desocupação, vai dar conta de esconder isso.
Ainda há muitas incertezas sobre como a "coronacrise" impactará a economia e o mundo do trabalho, mas uma avaliação inicial da organização advoga
por medidas coordenadas urgentes e de larga escala de forma a proteger
os trabalhadores no local de trabalho; estimular a economia e o emprego;
apoiar emprego e renda.
A OIT alerta que alguns grupos serão mais
afetados pela coronacrise - como pessoas em empregos em menor proteção
social, de baixos salários, trabalhadores mais velhos ou jovens,
migrantes e mulheres - o que pode ampliar a desigualdade. Enquanto isso,
novamente para o nosso desespero, em meio a uma pandemia, Jair
Bolsonaro cortou 158mil benefícios do Bolsa Família, sendo 61% do Nordeste do país”.
Medidas sugeridas contra a crise
Uma das questões importantes citadas pela OIT no referido documento é a proteção contra o vírus no local de trabalho, o que requer suporte público de larga escala e investimento. Em um segundo momento, o documento defende esforços coordenados de política e em larga escala para promover emprego e renda, estimulando a economia e a demanda por trabalho.
Segundo o documento, "estas medidas não só protegem
empresas e trabalhadores contra perdas imediatas de emprego e renda, mas
também ajudam a prevenir choques de oferta (com perdas na força de
trabalho) e de demanda (com a redução do consumo), que poderiam levar a
uma recessão econômica prolongada.
O documento sugere ampliação da
proteção social, apoio a emprego a tempo parcial, com licença
remunerada, entre outros subsídios, além de incentivos tributários em
especial para micro, pequenas e médias empresas. Também são sugeridos
apoios a setores específicos, mais afetados pela crise.
As propostas da OIT dialogam com as propostas de Juan Pablo Bohoslavsky,
expert independente em dívida e direitos humanos da ONU, cuja mensagem
principal é a necessidade de implementação de uma renda básica universal
de emergência. O expert afirma que está encorajado pelo fato de que
muitos países estão apresentando estímulos econômicos de larga escala,
mas aponta que "tais medidas precisam ser cuidadosamente desenhadas para
garantir que sua principal contribuição vá além de somente salvar
grandes empresas e bancos".
Diversos pesquisadores do campo da
heterodoxia econômica também têm se manifestado aqui no Brasil com
sugestões de propostas de como agir frente à crise muito mais sensatas
para o momento que as propostas de Paulo Guedes e seu time. É o caso de
pesquisadores do Cecon do Instituto de Economia da Unicamp, que
apresentam as propostas sintetizadas no quadro abaixo , de professores do Instituto de Economia da UFRJ e de professores da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS.
Até mesmo grandes nomes da ortodoxia econômica brasileira e do mercado
têm dado o braço a torcer e passam a pedir auxílio do Estado nesse
momento.
Quando tudo isso passar, o Brasil de Jair Bolsonaro
ficará conhecido como tendo oferecido a PIOR resposta à coronacrise em
termos sanitários, econômicos e sociais na experiência internacional.
https://www.cut.org.br/noticias/fundacao-perseu-abramo-e09b
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