A terceirização não é para melhorar serviço, é para reduzir salário', diz Vagner
Convidado de Juca Kfouri no programa "Entre Vistas", da TVT, o
presidente nacional da CUT disse não imaginar uma sociedade que vai dar
certo com mão de obra desqualificada, precarizada e piores serviços
Escrito por: Luciano Velleda, da RBA
Reprodução
O Entre Vistas desta terça-feira (11) foi "diferente", segundo a própria definição do jornalista e apresentador Juca Kfouri. Isso porque o programa da TVT teve
como convidado principal o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas,
mas contou também com a participação da presidenta do Sindicato dos
Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Silva, e o presidente do
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, o Wagnão, formando
assim uma trinca de peso do sindicalismo brasileiro.
A terceirização irrestrita, recentemente considerada legal em julgamento do Supremo Tribunal Federal
(STF), foi um dos assuntos mais acalorados do debate. Ponderando que a
medida foi uma mudança "grave", Juca Kfouri questionou o presidente
nacional da CUT da razão pela qual o trabalhar brasileiro recebeu de
modo tão pacífico tal decisão.
Vagner Freitas então lembrou a
greve geral realizada em abril de 2017, que mesmo tendo sido expressiva,
não surtiu o efeito desejado de impedir a aprovação da proposta de
terceirização irrestrita e a "reforma" trabalhista do governo de Michel
Temer. Segundo o presidente nacional da CUT, o resultado da paralisação
não foi suficiente diante de congressistas "instrumentalizados" pela
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a Confederação
Nacional da Indústria (CNI) e a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban).
"Tudo o que fizemos e não conseguimos barrar (as propostas do
governo)", afirmou, reconhecendo ter havido dificuldade na mobilização
dos trabalhadores.
"Só fizeram isso no golpe. Na democracia teriam
medo de fazer", afirmou, enfatizando que a consequência da
terceirização irrestrita será a precarização do trabalho e a piora do
serviço oferecido. "A terceirização não é para melhorar o serviço, é
para reduzir salário apenas. A terceirização é ruim para o consumidor do
produto final, que perde em qualidade. Não consigo imaginar uma
sociedade que vai dar certo com mão de obra desqualificada e
precarizada. A terceirização não vai melhorar as coisas. Ela precariza a
mão de obra e a qualidade do serviço que presta, e isso vai pondo o
país no atraso tecnológico", explicou Vagner Freitas.
Como exemplo
prático das consequências da terceirização irrestrita, Ivone Silva
citou os trabalhadores bancários, como gerentes e operadores de caixa,
que a partir de agora podem não ser mais contratados diretamente pelo
banco. Acrescente-se nesse cenário o fechamento de agências físicas, com
os serviços migrando cada vez mais para o ambiente digital, e o cliente
não saberá mais se o trabalhador é ou não funcionário do banco.
"A
questão da tecnologia, com o desmonte das leis trabalhistas, vai
permitir ter num mesmo banco funcionários de empresas diferentes",
explicou a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e
Região. Com funcionários terceirizados e atendimento on-line, Ivone
Silva destacou o perigo com a segurança dos dados sigilosos dos
correntistas de um banco. Para ela, a alta rotatividade do trabalhador
terceirizado e a ausência de um plano de carreira como funcionário
direto do banco, coloca em risco a proteção dos dados bancários de todo
cliente.
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner
Santana ponderou que na indústria automobilística, a terceirização de
profissionais da área de alimentação ou segurança já é realidade há
muito tempo, mas até hoje nunca atingiu o trabalhador que, de fato,
monta o veículo. "Agora está liberado para acontecer." Entretanto,
Wagnão salientou que categorias como os bancários e metalúrgicos são
mais protegidas devido a sua organização. Nesse aspecto, ele acredita
que a terceirização irrestrita atingirá com mais intensidade as
categorias de trabalhadores mais frágeis em sua organização.
Movimento Sindical
Fazendo referência à entrevista concedida por Jair Bolsonaro (PSL) no Jornal Nacional,
ocasião em que o candidato à Presidência da República "acusou" os
entrevistadores de trabalharem como pessoa jurídica para pagar menos
impostos, Juca Kfouri questionou Vagner Freitas se tal prática é uma
escolha do trabalhador ou uma imposição do empregador.
Para o
presidente nacional da CUT, a "pejotização" é uma medida imposta pelas
empresas e em nada beneficia o empregado. "Os trabalhadores querem ter
carteira assinada, com garantias e direitos. Não quer ser PJ", afirmou.
O apresentador do Entre Vistas também
questionou os convidados sobre a frequente acusação dos sindicatos
serem um "meio de vida". Segundo o presidente do Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC, poucos sindicatos se sustentam de forma organizada
como os bancários e metalúrgicos, e explicou que a própria legislação do
Brasil permite a existência de sindicatos que representam ninguém ou
poucos trabalhadores. "Tem sindicato que o número de sócio é o mesmo da
sua diretora", afirmou.
Por sua vez, Ivone Silva criticou a
legislação que determina a existência de sindicatos divididos em
categoria e por cidade. Na análise da presidenta do Sindicato dos
Bancários de São Paulo, Osasco e Região, tal medida ocasiona processos
de negociações diferentes nos estados, assim como data-bases distintas
para a mesma profissão. "Os trabalhadores não podem decidir a forma como
se organizam, isso é imposto pelo Estado."
Por fim, o presidente
nacional da CUT disse aguardar o resultado da próxima eleição para
resolver a questão trabalhista no Brasil, o que deve implicar a
revogação da "reforma" trabalhista e do teto de gastos que congelou o
orçamento da União por 20 anos. "Dia 7 de outubro é a chance de
trazermos o Brasil de volta", projetou Vagner Freitas.
Confira a íntegra do Entre Vistas com Vagner Freitas:
https://www.youtube.com/watch?time_continue=11&v=oJcY9zLmVfc
FONTE: site da CUT www.cut.org.br/noticias/a-terceirizacao-nao-e-para-melhorar-servico-e-para-reduzir-salario-diz-vagner-5d1b
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