Recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador podem parar nos cofres dos bancos privados
Foto: Roberto Parizotti
Passa
pelos planos do governo federal, liberar os recursos do Fundo de Amparo
ao Trabalhador (FAT) para que possam ser acessados pelos bancos
privados. A medida significa a “privatização do FAT”, afirma o
conselheiro do Codefat e secretário de Administração e Finanças da
Central, Quintino Severo.
De acordo com o dirigente, a medida, que só pode ser implementada
através de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC), deve impactar o
acesso da classe trabalhadora ao seguro desemprego ou mesmo o
direcionamento dos recursos para a geração de emprego e renda às
empresas.
“Esse serviço é uma exclusividade dos bancos públicos, em especial da
Caixa. Não é difícil de imaginar que os bancos privados cobrem uma taxa
para que o trabalhador acesse ao seguro desemprego, ou que o
trabalhador não tenha que comprar um produto do banco para acessar ao
abono salarial”, afirmou Quintino Severo.
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, o governo entende que “a
iniciativa amplia a concorrência” entre os bancos. A tese é rebatida
pelo dirigente Cutista, para quem “o banco público tem que ter uma
política diferenciada”, Confira a entrevista na íntegra:
CUT: O governo pensa em liberar os recursos do FAT aos bancos privados sem passar pelo BNDES. O que significa essa medida?
Quintino Severo: Hoje, somente os bancos públicos e o
BNDES podem contratar e operar os recursos do FAT. Essa proposta do
governo visa destinar esses recursos públicos para os bancos privados.
Essa proposta significa privatizar o FAT e consequentemente acabar com o
Conselho do FAT, que é o colegiado que faz o gerenciamento desses
recursos públicos tão importantes na geração de emprego e renda no
Brasil, além de pagar o seguro desemprego e o abono salarial. Então, me
parece que precisamos responder a essa iniciativa de forma muito dura,
para evitarmos que esses recursos passem para as mãos da iniciativa
privada. A meu ver, será o descontrole dos recursos do FAT, priorizando e
privilegiando os bancos privados desse País.
CUT: Uma das prioridades do governo é liberar a concorrência.
Não é um contrassenso colocar os bancos públicos para concorrerem com
os bancos privados?
Quintino Severo: Não é possível colocar os bancos
públicos no mercado com os bancos privados e deixar que o mercado
determine quem vai sobreviver. Ao contrário, o banco público tem que ter
uma política diferenciada. É uma contradição achar que liberar recursos
direto para os bancos privados vai fazer com que aumente a
concorrência, isso só vai prejudicar os bancos públicos.
CUT: Na ponta, onde o trabalhador vai sentir os efeitos dessa
medida? É na hora da contratação dos benefícios como o seguro
desemprego?
Quintino Severo: Exatamente, vai sentir na hora que
for contratar os serviços. No momento em que os bancos privados
acessarem esses recursos, poderão oferecer o pagamento de seguro
desemprego e abono salarial aos trabalhadores. Esse serviço é uma
exclusividade dos bancos públicos, em especial da Caixa. Não é difícil
de imaginar que os bancos cobrem uma taxa para que o trabalhador acesse
ao seguro desemprego, ou que o trabalhador não tenha que comprar um
produto do banco para acessar ao abono salarial. Temos muitas restrições
à essa medida.
CUT: Como fica, em sua opinião, os recursos do BNDES que são
destinados à geração de emprego e renda? Sai das mãos do governo o
gerenciamento desses recursos?
Quintino Severo: A micro e pequena empresa que
precisa de mais recursos para investir será prejudicada. Quem vai sair
ganhando é o sistema financeiro. Hoje, por exemplo, 40% das receitas do
FAT está no BNDES exatamente para gerar emprego e renda. Isso vai
desaparecer. Sobre o destino, deixa de ser opção do governo e passa a
ser uma decisão a ser tomada pelo mercado. Então, essa medida faz com
que a sociedade perca o controle de onde serão investidos os recursos
públicos. Hoje, o Condefat quem determina onde o dinheiro irá investir e
temos optado por destinar os recursos para o pequeno empreendedor e
para as empresas que mais precisam, que é onde a sociedade sente o
retorno mais rápido.
CUT: O Condefat pode impedir essa medida?
Quintino Severo: Isso seria decidido via PEC, no
Congresso. A sociedade pode, e deve, pressionar os parlamentares e
debater esse tema, para que as regras não mudem. É papel do Conselho
estimular esse debate.
Escrito por: Igor Carvalho • Publicado em: 03/02/2017 - 16:57 • Última modificação: 03/02/2017 - 17:33 - publicado no sítio eletrônico da CUT (Central Única dos Trabalhadores) - http://cut.org.br/noticias/governo-quer-privatizar-o-fat-alerta-cut-6cb6/
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